Merecido
Para o torcedor rival que ficou sem piadas, a nova já havia sido elaborada antes mesmo da final em Yokohama: o mundo acabará mesmo em 2012. Afinal, Niemeyer e Hebe morreram e o Corinthians, enfim, ganhou a Libertadores, com a possibilidade de conquistar o mundo sem ser contestado. Se não bastasse, numa final contra o Chelsea, agora também campeão do torneio continental que disputa.
Porém, se engana quem acredita que esse vitorioso 2012 corintiano, com o Palmeiras rebaixado e título mundial como presente de Natal às vésperas de 2013, seja fruto de uma profecia apocalíptica ou da mal interpretada previsão dos maias. Como já foi dito aqui e Tite se cansou de lembrar, tudo que tem acontecido com o Timão, desde 2011, foi por merecimento.
E, aliás, não há quem mereça mais os louros do que o treinador gaúcho, que também merecia a Seleção Brasileira no lugar do conterrâneo Felipão.
Um alguém que faz questão de ser grande homem antes de um grande técnico.
Um alguém que pensa na vida, no ofício, e sabe que não basta o incentivo emocional para vencer.
Mas sabe a importância dele para tal.
E é com essa consciência que Tite dosa a motivação de seus atletas com tudo o que ele conhece sobre futebol – e conhece muito mais do que dizem que fala.
Com o aprendizado de 2005, no qual teve de lidar com as estrelas da MSI e acabou demitido, Tite conseguiu encontrar o modelo citado por todo e qualquer “corneteiro” quando o papo era, ainda, a possibilidade de sucesso corintiano na Libertadores: um time frio, sem vaidades, que aguentasse a pressão e cujo trabalho em equipe fosse o principal trunfo. Não à toa este Corinthians conquistou o Brasileirão no ano passado. Somente este Corinthians poderia superar qualquer adversário e levar a Libertadores e o Mundial de Clubes em 2012.
Um Corinthians bem estruturado, disciplinado taticamente, treinado à exaustão, mas que não faz com que isso lhe prive de apresentar um bom futebol, dentro do que é possível. Um Corinthians cujo elenco joga junto há dois anos e, também por isso, sabe bem quais são suas limitações.
Um Corinthians retratado nas figuras de Paulinho e Danilo, protagonistas que fazem questão de ser discretos.
Um Corinthians favelado como o Sheik e “guerrero” como seu camisa nove, autor dos dois gols da equipe na competição.
Um Corinthians que se vale, como nenhum outro time brasileiro consegue, do que tem de melhor: o conjunto. Isso, aliado a uma torcida que ensina o significado do verbo torcer, possibilita ao clube de Parque São Jorge, hoje, encarar quem quer que seja.
Foi assim que ante o Chelsea realizou uma partida que, quando não foi perfeita, contou com o despertar do adormecido Cássio, a estrela da qual todo campeão necessita.
Melhor jogador da decisão, o camisa 12 foi o São Marcos da vez. E mais do que Cássio merecer a canonização, Marcão merece a homenagem poucos dias depois do seu adeus oficial.
Se dentro de campo o embate foi parelho e existem os lunáticos que afirmam que os jogadores do Chelsea são infinitamente superiores aos corintianos, nas arquibancadas o Timão escancarou a principal diferença entre os dois clubes.
Se em 2000 dizem que não foi merecido – pela escolha dos participantes e não pelo que os alvinegros apresentaram no torneio -, não há o que questionar em 2012.
Como não havia na Libertadores.
E Tite, insistentemente, vinha avisando.