A (planejada) primeira vez
Posted On 11 de julho de 2012
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0 Embora hoje seja noite de final palestrina, o Futeboteco, mesmo sem a frequência de outrora, não poderia deixar de comentar o histórico e inédito título da Libertadores obtido pelo Corinthians.
Título que, dentre as várias e criativas manchetes elaboradas pelos mais diversos jornais do país, conseguiu, sem dúvida, sua melhor tradução com o Diário Lance! de São Paulo: “Libertado!”, exclamava a capa daquele recente 5 de julho de 2012, que sucedia a data da Independência Corintiana na América, proclamada, simultaneamente, por Juca Kfouri em sua coluna no caderno de esporte da Folha de São Paulo.
Foi a libertação das aparentemente intermináveis gozações dos torcedores rivais e da pressão descomunal à qual os atletas do Timão eram submetidos toda vez que entravam em campo pela competição continental. E de fato a tão sonhada taça prateada não poderia vir por meio de outro time senão deste Corinthians de Tite, marcado pela disciplina, frieza e ausência de vaidades.
Mas nada é por acaso.
A primeira vez corintiana foi planejada.
E tal trajetória se inciou quando o então presidente Andrés Sanchez bancou Tite no comando da equipe, mesmo com o gaúcho tendo chefiado o grupo que protagonizou um dos mais vexatórios capítulos da história alvinegra, a eliminação na fase de pré-Libertadores para o modesto Tolima, em 2011.
Com isso, Tite desfrutou do que deveria ser óbvio para qualquer cartola: tempo para trabalhar. Afinal, o intrépido Adenor Bachi chegou em 2010 faltando apenas oito rodadas para o término do Campeonato Brasileiro, no qual o clube de Parque São Jorge não conseguia sucesso sob o comando de Adilson Batista, que foi demitido no dia 10 de outubro daquele ano e substituído pelo técnico gaúcho. E mesmo assim Tite conseguiu a façanha de classificar a equipe para a pré-Libertadores de 2011, com a 3ª colocação daquele Brasileirão.
No entanto, foi após o fracasso em tal edição da Liberta, ante o colombiano Tolima, que Tite começou a dar os primeiros passos para ser campeão do torneio no ano seguinte. O treinador agregou qualidade ao grupo que tinha, bolou um sistema de jogo que condiz com as características dos seus jogadores, com Ralf e Paulinho como os dois pilares da equipe, marcação forte e pressão na saída de bola do adversário.
Antes de conquistar a América, Tite se reciclou, se reinventou, conquistou a confiança e o respeito dos seus comandados, dos dirigentes e torcedores, para ser pentacampeão brasileiro no final daquele ano que começou com tragédia.
E para a tristeza dos “antis”, a conquista da Libertadores, no ano vindouro, veio de forma incontestável.
Campanha perfeita. Invicta. Sem deslize, gol impedido ou pênalti mal marcado que pudesse virar motivo de uma nova piada, pois o Guinei da vez foi Rolando Schiavi. O experiente zagueiro do Boca deu um prensentão para o Sheik das Américas, que, por sua vez, presenteou a Fiel Torcida com o troféu mais sonhado por ela.
Uns dirão que o Timão ganhou sua primeira Libertadores na milagrosa defesa de Cássio contra Diego Souza, no segundo jogo das oitavas, num Pacaembu abarrotado, contra o Vasco da Gama, de quem venceu o Mundial Interclubes em 2000.
Outros dirão que foi nos três gols de Emerson Sheik, o primeiro na Vila Belmiro, contra o Santos de Neymar, na semifinal; os outros dois na finalíssima, diante do bicho-papão Boca Juniors de Riquelme, com o primeiro depois de passe de letra de Danilo, que honrou as comparações ao francês Zidane.
Uma terceira parte entenderá que foi na cavadinha do iluminado Romarinho, em plena Bombonera, ainda no duelo que inaugurou a decisão.
Porém, todos concordarão em creditar as glórias ao grupo e seu treinador.
A parcela mais experiente dessa unanimidade também a de convir que a aura tomada pela equipe de Tite, com “pinta de campeão”, era semelhante a aura do time que, com gol de Basílio, faturou o Paulista de 1977 e libertou o Corinthians de outra execração.
Quem conta é meu amigo corintiano e professor de jornalismo, Edgard de Oliveira Barros.
Na quinta-feira que sucedeu o título da Libertadores, Edgard me enviou por e-mail uma belíssima crônica sobre aquele momento que lhe remetia a este outro, igualmente significativo para ele e para o seu clube de coração.
E apontou para a lua.
Enorme.
Linda.
Grandiosa.
Luminosa.
De São Jorge.
Assim como em 1977, até a lua foi te ver, Corinthians.