A segunda chance de um gigante
Quando eu comecei a entender as coisas, inclusive o futebol, era o Palmeiras quem encantava. Se o São Paulo era bicampeão mundial, o time alviverde era o responsável pelo futebol arte, vistoso.
Ao longo da década de 90, quando a quase imbatível parceria entre o clube e a Parmalat estava a plenos pulmões, era difícil não torcer para a equipe palestrina.
Porém, chegou o século XXI e com ele o sofrimento daqueles que estavam acostumados com os dias de glória. Basicamente por problemas institucionais formados pela impossibilidade de reciclagem.
Como uma monarquia, o clube passa nas mãos daqueles que pertencem às velhas e intocáveis famílias fundadoras. Não que isso já não acontecesse antes, no entanto, com o novo século, a ideia de clube/empresa passou a ficar cada vez mais forte.
Com algumas exceções, os clubes evoluíram. A democracia foi instituída na maioria deles, ainda que às vezes de forma duvidosa. Aquele que contribui mensalmente com o time de coração, passou a ter voz.
Quando a equipe de Palestra Itália vencera o Deportivo Cali, na decisão da Taça Libertadores de 1999, os torcedores que comemoravam o histórico e heroico título jamais poderiam imaginar que apenas três anos depois, o time paulistano sofreria a maior dor da sua história.
Mas aquele cara que comemorou em 99 e chorrou em 2002, resolveu apoiar em 2003. O que não foi pouco, já que o Palmeiras, ao lado do Botafogo, foi aquele quem mostrou ao Brasil que time grande também pode cair e mais: pode subir honestamente.
O problema é que aquela queda foi tratada como um incidente. E este foi um erro fatal. O time alviverde perdeu claramente a chance de se reestruturar, modernizar, reorganizar. Começando pelo seu falido estatuto.
Os próximos dez anos continuaram sendo de sofrimento. Aquele garoto que vira Evair, Edmundo, Roberto Carlos, Rivaldo e tantos outros pertencentes àquele esquadrão de 93 passou a, muitas vezes, não conseguir explicar ao seu filho a grandeza do seu time de coração.
Título só teve o Campeonato Paulista de 2008. Não desmerecendo o torneio, que é o regional mais forte do país. Porém a sua importância já não era mais a mesma dos tempos de Ademir da Guia.
Até que, no dia 11 de julho de 2012, um grande título seria conquistado na raça. Mais uma campanha poderosa num torneio de mata-mata. O troféu da Copa do Brasil simbolizava a cara do clube.
Seria a volta de um gigante, ou a sorte de um elenco motivado? A verdade é que o time palestrino ainda não havia se reestruturado. E desta vez, assim como em 2002, o castigo veio antes do esperado.
A partida diante do Botafogo, na tarde do último domingo, 4 de novembro de 2012, sacramentou o segundo golpe mais duro na história do gigante Palmeiras.
Eu sei, ainda existem chances matemáticas, mas convenhamos: milagres não acontecem todos os dias. E quando acontecem, são para aqueles que realmente merecem. Não é o caso deste gigante.
A oportunidade passa algumas vezes pela nossa frente, às vezes deixamos passar. Mas quando realmente aprendemos, agarramos e nos transformamos. O rebaixamento de 2012 é, com certeza, mais uma chance do destino aparecendo nas mãos daqueles que dirigem o Palmeiras.
Como amante de futebol, só me resta acreditar que, desta vez, eles irão aprender.