O Ganso dos ovos de ouro
Não é preciso entender muito de futebol pra saber que Paulo Henrique Ganso é muito talentoso.
O cara tem visão, tem drible, erra poucos passes, é inteligente e conclui bem. Além disso, joga numa posição em extinção: a de meia-armador.
Por tudo isso, mais a preocupação com a seleção de Mano Menezes, mais a gigantesca carência de ídolos do futebol brasileiro, todos nós, naturalmente, nos preocupamos muito com o camisa 10 do Santos.
Acontece que toda essa preocupação aumenta muito quando percebemos quem são as pessoas que cercam o jogador.
Veja só: há algumas semanas atrás, quando Ganso ainda se recuperava de contusão, um grupo de garotos pediu um autógrafo ao craque, e ouviu um “não” como resposta.
O pai dos meninos, chateado com razão, rebateu que, se fosse o Pelé, atenderia o pedido.
Qual, porém, não foi sua surpresa ao ouvir, de um dos assessores de Ganso, que Pelé não amarra a chuteira do jovem meia?
Tudo bem, é só uma história. Mas não deixa de ilustrar bem os motivos que levaram à atual confusão envolvendo o jogador, seu estafe, a diretoria santista e a torcida alvi-negra.
Ganso já disse que jogaria no Santos até por 1R$. Segundo ele, a “vontade de ir para a Europa” se deve mais à “preocupação com a carreira” do que a qualquer outra coisa.
Mas me responda: por que motivo um jovem de menos de 20 anos, que ganha 300 mil reais por mês e é mania nacional, haveria de estar “preocupado com a carreira”?
A resposta é óbvia: Paulo Henrique já deixou de mandar na própria carreira faz tempo.
Antes mesmo de Luís Álvaro pensar em ser presidente do Santos, o seu antecessor, Marcelo Teixeira, já tinha vendido boa parte dos direitos do atleta para o grupo SONDA.
Essa é uma das razões pelas quais Ganso ainda não foi para a Itália, mas, por outro lado, também é uma das razões que podem o levar à Itália.
Porque o que o SONDA quer é lucro, e muito. E o grupo já percebeu os ovos de ouro que Ganso pode botar.
Mas o SONDA tem um empecilho: como todo jogador, o jovem meia santista tem uma multa recissória em seu contrato.
Além disso, até ontem, a vontade do jogador era permanecer na Vila.
Agora, porém, sendo vaiado e chamado de mercenário, é difícil prever o futuro.
Talvez Ganso queira forçar uma recissão sem multa. Talvez dê uma de Robinho e pare de treinar.
Quem se prejudicará com isso, naturalmente, será o torcedor, o clube e o próprio atleta que, tão jovem, já conseguiu uma confusão pro seu currículo.
Mas tem o outro lado da moeda: a desgraça do torcedor brasileiro é o lucro do empresariado.
Quando o torcedor perde um craque, pode ter certeza que, em algum lugar, algum executivo enche o bolso.
Aí, a nós, só resta torcer para que Ganso tenha lucidez para dicernir o que é bom e o que é ruim para sua carreira.
Nesse sentido, a torcida do Santos também podia parar de fazer o jogo do SONDA. Já seria uma grande coisa.