A relatividade de Pato por Jadson, e vice-versa
Além da crônica esportiva se refestelar com novo motivo para usar a rodo o trocadilho “de pato pra ganso”, já que a dupla de aves anda ausente do selecionado nacional, a surpreendente troca de Alexandre Pato por Jadson, entre Corinthians e São Paulo, gera uma infindável pergunta: quem saiu ganhando?
Caso fosse vivo, Albert Einstein, uma das mentes mais brilhantes da história da humanidade, responderia algo do tipo: “é tudo muito relativo”.
E é mesmo. Explico.
Assim que os primeiros detalhes da negociação foram revelados pela imprensa, no último dia 5 (leia), meus contatos no Facebook (e certamente os seus também) começaram a se manifestar sobre o assunto.
Um amigo corintiano, com razão, comparou a troca entre alvinegros e tricolores a um Porsche com defeito que você financia em seis anos (Pato, que ao todo irá custar 40 milhões de reais ao Corinthians e ainda não foi “quitado”) e, logo no segundo, passa pro seu vizinho (o São Paulo), sem que ele assuma o carnê. Em troca, você pede ao vizinho que lhe dê o Palio 1.0 dele e pague só a gasolina, porque o IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores) fica por sua conta.
Faz todo o sentido. Realmente, do ponto de vista financeiro, quem saiu perdendo – e muito – foi o Timão, que desembolsou toda essa grana por Pato, fora o salgado salário de 800 mil reais mensais durante um ano (do qual continuará pagando a metade por alguns meses, agora com a troca) e economizará pouco mais de um milhão de euros no período em que ele ficará por empréstimo no Morumbi. Pouquíssimo perto do que já foi e ainda será gasto com o atacante, que não deu retorno algum enquanto esteve no Parque São Jorge. Somente a infelicidade de a nação alvinegra ter de presenciar o sucesso do ex-camisa 7 no maior rival recente pode aliviar o caixa do clube, já que isso possibilitaria uma venda dele para o exterior e o Corinthians pode fazê-la a qualquer momento sem precisar da autorização da diretoria tricolor.
“Alexandre Pato foi para o São Paulo, mas o Corinthians continuará pagando o pato. E o Pato”, brincou na rede social mais um amigo, este palmeirense.
Mas o contraponto feito por outro, dessa vez um santista, permite que entendamos a relatividade que envolve o caso.
“No entanto, o futebol é tão peculiar que às vezes um Palio 1.0 ganha na corrida dum Porsche”, ponderou o nosso colunista Rodolfo Gomes, que, ainda na rede social, completou:
“Eu não trocaria o Pato pelo Jadson, barganharia mais, tentaria algo melhor, já que o Pato tem nome. Mas, no mínimo, o Jadson foi um pedido especial do Mano, que o convocava seguidamente para a Seleção”.
Depois, a impressão dele – que também era a minha e, decerto, de tantos outros – foi confirmada pela imprensa: “Após pedir Jadson à diretoria, Mano quer novo atacante no Corinthians“, publicou o portal Terra no dia seguinte.
Se Pato e Jadson já estavam desgastados em suas antigas equipes, a mudança parece positiva para os dois: qualidade se sabe que eles têm (ainda mais pro futebol brasileiro atual), tanto que ambos chegaram a ser lembrados por Felipão. O primeiro é mais talentoso, mas o segundo foi convocado pra Copa das Confederações no lugar de Ronaldinho Gaúcho, na época em grande fase e favoritíssimo a vestir a 10. Jadson, inclusive, chegou a ser cogitado como meia titular, o que não se concretizou e havia acontecido na véspera do torneio, em amistoso ante o Chile, quando só atuaram pela Seleção atletas do campeonato nacional.
Agora, se vão dar certo em suas novas missões, isso é outra coisa. A novidade corintiana estreia nesta tarde, logo num aguardado Dérbi contra o Palmeiras. Na companhia da namorada, Sophia Mattar, a novidade são-paulina assistiu, ontem, ao empate sem gols dos seus companheiros com a Lusa e deve estrear em breve.
Normalmente comprometido, Jadson parece, sim, mais propenso a dar a volta por cima do que Pato, há muito estagnado na função de socialite. Em contrapartida, o reforço corintiano tem sofrido com o excesso de peso – o vazamento desta notícia, segundo o Blog do Birner, melou a negociação dele com o turco Besikitas na metade do ano passado – e precisa voltar à melhor forma física. A realidade é que, do ponto de vista técnico, a vantagem de Jadson é pequena e qualquer desfecho é perfeitamente possível:
Ferido com as críticas, Pato pode muito bem fazer diferente do que fez no Corinthians e na Seleção (ou seja, reagir!) e brilhar pelo São Paulo para, nas próximas janelas de transferências, ser vendido pelo Timão por uma quantia que recupere o dinheiro investido. Sobretudo neste primeiro momento, de muita expectativa pela estreia do atacante pelo Tricolor, é provável que ele jogue bem (já se destacou nos primeiros treinos). Enquanto isso, seu colega de troca pode não conseguir render num clube que vive um péssimo momento dentro e fora de campo.
Também é bastante possível o inverso: a utilidade de Jadson, aliada à reformulação do elenco iniciada por Mano Menezes, que confia no jogador, pode ser elementar para a redenção do Alvinegro, ao passo que Pato, sem recuperação, continue preferindo a Ilha de Caras à bola e se junte às estrelas sonolentas do Morumbi, grupo atualmente composto por Ganso e Luís Fabiano.
No entanto, a mais otimista das possibilidades – e que mais torna sensata essa troca – prevê que ambos consigam êxito nos novos ares que decidiram respirar.
Alguma das opções parece improvável?
Relativo, não?
De Pato pra Ganso (aê, usei!)
Em julho de 2010, a revista Placar elegeu Pato e Ganso como as esperanças da Seleção Brasileira para a Copa-14 (e, claro, também usou o trocadilho). A menos de seis meses para o início da competição, a dupla está de volta, agora no São Paulo.
Unanimidade até então, dupla foi capa da Placar em 2010 |
E, claro, em realidades bem diferentes da que viviam há quatro anos.
Após sofrer com seguidas lesões no joelho direito e fracassar nas seleções olímpica e principal, Paulo Henrique Ganso não conseguiu ganhar a confiança do torcedor tricolor desde que chegou ao Morumbi, em setembro de 2012, por 23,9 milhões de reais. Como foi dito na primeira parte do texto, Alexandre Pato segue a mesma toada do companheiro de classe animal: com os mesmos 24 anos, é um jogador que, por outros motivos, parece estar em final de carreira.
Nem seria preciso citar que, hoje, eles sequer são cogitados entre os 23 que defenderão o Brasil no Mundial.
Os nomes do momento?
Hernane Brocador, Walter Gordinho, Alan Kardec…
Existe até quem defenda Adriano Imperador na Seleção, caso ele faça boa campanha com o Altético-PR na Libertadores! E não é que, com doses cavalares de romantismo, até faz sentido, Xico (leia)?
É, o mundo dá voltas…