Ninguém é perfeito
Recentemente, nosso intrépido Gabriel Lima espinafrou a coluna pró-Copa de Ronaldo na Folha de São Paulo e, para isso, comparou o Fenômeno com outro atacante que marcou história no futebol brasileiro, Romário, alguém que demonstra ser infinitamente mais lúcido.
Desde que se tornou deputado federal pelo PSB do Rio de Janeiro, o Baixinho tem surpreendido a todos pelo posicionamento crítico, principalmente diante de assuntos relacionados à CBF, à Fifa e às operações para a realização do Mundial por aqui.
Ele é o cara – ou o “peixe”, como costuma dizer – que consegue o que poucos conseguiram quando tentaram: ter carreira brilhante dentro e fora de campo, ao se aventurar na política.
Na segunda-feira retrasada, porém, o rei da pequena área mostrou que ninguém é perfeito e derrapou num erro costumeiro do ser humano: confundir questões profissionais com pessoais.
Algo que me incomodou e, por isso, preferi escrever sobre o tema, apesar de tamanho atraso.
Em entrevista ao programa “Linha de Passe”, da ESPN Brasil, Romário fez campanha aberta para que o amigo Eurico Miranda, ex-presidente do Vasco da Gama e atual presidente do Conselho de Beneméritos, reassuma o cargo mais alto do clube, para qual é candidato pela oposição.
Triste. Esse é o meu sentimento e, com certeza, de tantos outros.
Romário acerta quando critica o atual mandatário vascaíno, Roberto Dinamite, que, além de maior artilheiro da história da equipe, com 702 gols, também é dono de uma das gestões mais trágicas dela.
Visivelmente incompetente desde as primeiras decisões como presidente do Vasco, em 2008, Dinamite arrombou os cofres do clube, acumulou dívidas exorbitantes (vários jogadores não recebem salários há meses), presenteou a torcida com (caps lock) DOIS rebaixamentos e é acusado de nepotismo e envolvimento no desvio de recursos vascaínos para a conta de “laranjas” no exterior, como divulgou há tempos alguns veículos, entre eles o Blog do Paulinho.
O ponto fora da curva foi o título da Copa do Brasil, logo de início, que não serviu (e poderia ajudar a servir) para salvar o Vasco da tragédia anunciada.
Dinamite se perdeu ao dividir a presidência vascaína com o cargo de parlamentar, assim como se perdeu com amizades questionáveis durante esse percurso.
Entre os culpados pelo buraco no qual se afundou o Cruzmaltino, sem dúvida, o presidente atual encabeça a lista. É ótimo que ele não dispute a reeleição.
Mas seu antecessor e principal concorrente ao pleito é o responsável pelos buracos anteriores, que tornaram o trabalho de Dinamite ainda mais árduo.
Notório defensor de viradas de mesa, Eurico Miranda é o autoritarismo e o retrocesso em pessoa. Com seus charutos, fumaças e cara de mafioso, encarna perfeitamente o personagem de “falso malandro” e faz questão de aparentar o pior.
Envolvido até o pescoço em relacionamentos pra lá de escusos, recebeu pedidos de cassação tanto quando presidiu o Vasco como quando foi deputado federal, pelo deprimente PPB. Entre as acusações, estão evasão fiscal e desvio de aproximadamente 476 mil reais dos cofres vascaínos para o financiamento da própria campanha.
E não me venha, por favor, com o argumento de que, durante a gestão euriquista, o time da Colina gozou de títulos e craques.
Isso pouco importa.
Estamos, afinal, falando de uma figura sem um “pingo” de ética. Sem um “pingo” de respeito por nada ou alguém. Nem por ele.
Para isso, sequer seria necessário citar que Eurico tem João Havelange como ídolo, ainda que ajudasse a desenhar o diabo como ele é.
Como apoiar um cara desse e, ao mesmo tempo, bater em Marin, Blatter, Valcke e Ronaldo, meu caro Romário?
Não há como. Ela, a coerência, não permite.
A realidade é que tudo que o Vasco precisa é de renovação.
E tudo que ele não precisa é da volta de Eurico, que representa o que há de pior e mais ultrapassado na cartolagem brasileira.
Quem perde com a declaração dada por Romário é o próprio Romário. Perde a confiança de quem o considerava confiável.
Quem também perde é o Vasco, sem candidatos à altura (além de Eurico, a oposição têm os péssimos Nelson Rocha e Roberto Monteiro e, na situação, a única opção é um coronel reformado da PM!), e em meio a uma crise aparentemente sem fim.
Ps: Quanto foi a final do Campeonato Carioca? Alguém assistiu? O Vasco jogou?