Convenção idiota
Assistirei ao Majestoso no popular Rei das Batidas, bar que fica aqui no Butantã, zona oeste paulistana. Comigo, estarão Gabriel Lima, nosso colunista são-paulino, e mais uma galera. Faz parte dos meus maiores prazeres apreciar um bom “futeba”, com rivalidade ou sem, mas com muita discussão, enquanto bebo e me divirto na companhia de amigos.
Acontece que estou revoltado. Pato e Jadson, as principais atrações do clássico, foram barrados. E, no caso do primeiro, não foi porque ele ultrapassou o limite de partidas por outra equipe no Paulistão – algo que seria justíssimo. Não fosse isso, o atacante “popstar” permaneceria impedido de jogar. Como permanece Jadson, mesmo estando apto a atuar no estadual.
Quem os vetou tem nome e sobrenome (não, não foram “os manifestantes baderneiros”): convenção idiota (perdoe-me a redundância e, também, o palavreado).
Não há outra explicação. Nem a mais conspiratória.
Sei que escrevi sobre a referida dupla há algumas semanas – e peço desculpas pela repetição do tema -, mas, nesta tarde, no Pacaembu ou fora dele, qualquer torcedor, de qualquer torcida, queria ver apenas dois caras. Nada de Guerrero ou Rogério Ceni. Luciano ou Ganso. Romarinho ou Luís Fabiano.
Este Corinthians x São Paulo era de Jadson x Pato.
A oportunidade de fazer valer a tão prazerosa e necessária rivalidade. De provar em campo, ainda que de forma muito mais folclórica do que real – e aí está o barato da coisa -, quem saiu ganhando na troca. Também era a oportunidade para os dois jogadores darem respostas diretas aos antigos times.
Mas não. Uma das várias convenções idiotas que atrasam este mundão está pelo caminho. Além de ser utilizada em trocas como a que aconteceu entre alvinegros e tricolores, o habitual “acordo de cavalheiros” também aparece com frequência em empréstimos de atletas.
Na cabeça daqueles que o praticam, Paulo Nunes não poderia enfrentar o Palmeiras defendendo o Corinthians; Ricardinho, o Corinthians defendendo o São Paulo; Bebeto, o Flamengo defendendo o Vasco; Romário, o Vasco defendendo o Flamengo; Renato Gaúcho, o Grêmio defendendo o Fluminense; Ganso, o Santos defendendo o São Paulo…
Quanta besteira. Uma medida totalmente sem propósito e que só presta desserviços ao futebol.
Para usar Jadson num embate contra Rogério Ceni e cia., o Alvinegro precisa pagar um milhão de reais ao time do Morumbi (!). Qual é o sentido? Será que, para os dirigentes corintianos, o problema maior desta negociação é enfrentar um adversário que tem metade do salário financiada pela equipe – e não o fato de, por exemplo, ter de pagar metade do salário dele?
Li há pouco, nos sites SPNet e Meu Timão, que o vice-presidente de futebol do Tricolor, João Paulo de Jesus Lopes, cogita quebrar o acordo para que Pato e Jadson disputem Majestosos no futuro.
Que os anjos digam amém.
E o futebol tenha ídolos, necessidade lembrada por Muricy Ramalho na coletiva de sexta-feira.
Porque, se o campeonato está chato, como bem observou o técnico são-paulino, a caretice dos clubes também não ajuda…