Papeis invertidos
Já sabendo que iria escrever um texto para este espaço sobre o clássico paulista de ontem (9), entre Corinthians e São Paulo, resolvi colocar uma atenção acima do normal na partida, já que se tratava de um confronto com pouquíssimos atrativos, de uma fase praticamente irrelevante de um torneio medíocre.
Pois bem, a primeira coisa que despertou a minha atenção foi a escalação das equipes.
O técnico Mano Menezes, que há não muito tempo assumiu a seleção brasileira dizendo que tentaria recuperar o protagonismo dela, escalou um time precavido, com três volantes (Ralf, Bruno Henrique e Guilherme) e um meia (Renato Augusto), formando um losango no meio de campo, e dois atacantes abertos (Romarinho e Luciano).
Já Muricy Ramalho, que, em outros momentos, tanto critiquei pela falta de audácia, escalou um equipe mais ofensiva e corajosa, mesmo atuando fora de casa e sob a forte pressão de não vencer um clássico há bastante tempo.
O treinador são-paulino foi a campo com o tradicional 4-2-3-1, formado com laterais apoiadores (Álvaro Pereira e Douglas), dois volantes de boa qualidade na saída de bola (Souza e Maicon), um meia (Ganso), dois atacantes abertos (Oswaldo e Pabón) e um jogador de área (Luís Fabiano).
O resultado das escalações apareceu em vários aspectos da partida, a começar pela posse de bola do São Paulo no jogo: 62,7%, contra 37,3% do Corinthians. O time alvinegro, aliás, abriu o placar logo no início da partida e, após o tento, contentou-se em defender-se e apostar num eventual contra-ataque. Pouco para o clube que mais arrecada no país, recentemente foi campeão mundial e estava diante da sua forte torcida contra o maior rival na atualidade.
Os papeis invertidos, no entanto, não ficaram apenas por conta de Mano e Muricy. O que dizer de Antônio Carlos? O zagueiro que já tinha quatro gols na competição, marcou mais dois na partida, porém contra seu próprio patrimônio. O primeiro, diga-se, de forma bisonha.
Eram pouco mais de 15 meses sem uma vitória num clássico. Luis Fabiano estava próximo de completar 900 minutos sem marcar diante de um rival. Tudo se quebrou na ensolarada tarde de domingo. Mas nem tudo são elogios do lado do Morumbi. Pelo menos não para um: Alexandre Pato.
São-paulino mesmo? O homem de dois times – nota-se pela conta dele no Twitter, que leva as cores e escudos dos dois rivais -, comemorou a vitória do Tricolor na rede social. O presidente do Corinthians, Mário Gobbi, prontamente retrucou o atacante:
“Sem comentários. Cada um fala o que quer e sabe o que pensa. Ele (Pato) não pode se esquecer que em janeiro de 2016 ele tem de se apresentar na Rua São Jorge, 777, quinto andar”.
O melhor para Pato era ficar quieto, já que a equipe alvinegra ainda banca metade do alto salário dele. Mas também faltou elegância a Gobbi, que poderia ter dado menos ênfase ao ocorrido. Com isso, acabou demonstrando indiretamente o quão a derrota para o rival o machuca.
Pelo menos para isso, os Estaduais ainda servem.