Relaxa, Prass, e até a volta!
Relaxa, Prass. Sei que não foi como você planejou.
Também não foi como nós, palmeirenses, havíamos planejado. Ou como esperavam os vários torcedores de outras cores que admiram o cara que você é.
Logo uma saída como essa acontecer com um jogador como você, que não esmoreceu depois de perder espaço, treinava até nos dias de jogos para estar pronto quando precisasse, que defendeu o verde com tanto afinco, mesmo que fosse para orientar os mais novos no banco de reservas. Tudo isso prova que o idealismo do torcedor existe, ainda que perdido em casos raros como o seu.
Raro como o Palmeiras contratar um goleiro. E foi o que aconteceu em 2013 — e não acontecia até então desde 1994 –, quando o Verdão foi te buscar no Vasco da Gama, onde você também conquistou a torcida por honrar, como sempre, o manto que veste. Uma época em que não era fácil aceitar um convite do Palmeiras como agora. Era preciso alguém com seu profissionalismo para encarar uma série B, ser campeão dela e ajudar a impedir outra no ano seguinte.
Esse sofrimento lascado, no entanto, valeria a pena. Serviria para forjar o ídolo que você sempre será. O melhor goleiro da Copa do Brasil de 2015. O homem da decisão. O nome do título. Como se esquecer da defesa cara a cara com Fred na semifinal? Como não cair nas lágrimas com a final pulsante contra o Santos, num Allianz Parque repleto de palmeirenses por dentro e por fora? A única taça levantada pelo Verdão com um gol de goleiro. Sua cobrança de pênalti, estufando as redes de Vanderlei, está eternizada na memória de uma torcida que te ama, tenha certeza.
Era sempre nítido o valor que você, Prass, dava para essa reta final no clube. A expectativa de como seria sua despedida. O apreço por cada oportunidade de entrar em campo e aumentar a marca que terminou em 274 partidas. O oitavo goleiro que mais atuou pelo Palmeiras. Atrás de Leão, São Marcos, Valdir de Morais, Velloso, Oberdan Cattani, Sérgio e Gilmar. Isso, porém, só nos números, porque seu nome estará sempre ao lado dos que estão à sua frete, no mesmo patamar, e será lembrado quando o assunto for a fábrica de arqueiros palestrina.
Mas, sabemos, nossa diretoria, atualmente, não está à altura de Fernando Prass, um jogador que dignifica a classe, luta por ela, tem noção de empatia e justiça social. Um líder que exerce liderança pelo respeito — como, óbvio, tem de ser. Um goleiro discreto, seguro, articulado nas palavras e que, como poucos, sabe defender a humanidade tão bem quanto defende pênaltis.
Exatamente o contrário das diretrizes do atual Palmeiras, um clube elitista, conservador, antipático, ostentador, segregador, autoritário. Um clube que deixa presidente fascista fazer parte de uma festa que não é dele, entende seus torcedores apenas como sócios, enquanto afasta aqueles que não lhe interessam.
Dói muito tudo isso.
Dói saber que você não vestirá mais a camisa do Verdão, Prass. Dói saber que você merecia mais, assim como o Palmeiras merecia outra diretoria. Dói como seu cotovelo doeu em 2016 e doeu na torcida saber que você perderia a chance de ser titular da seleção brasileira nas Olimpíadas do Rio – justamente aquela que terminaria com a inédita medalha de ouro e tendo como seu substituto Weverton, o goleiro que merecidamente herdaria sua titularidade no Palmeiras.
Mas você, Prass, dará a volta por cima como sempre deu. Os dirigentes passam e o ídolo fica. É a lógica do futebol. E, por isso, você terá ainda a despedida que deveria ter. Vitoriosa como foi sua passagem pelo clube. Emocionante como a final da Copa do Brasil de 2015.
Espero, ainda, que volte, seja na comissão técnica ou na diretoria. O Palmeiras precisa de um cara digno como você.
Até lá! E muito obrigado por tudo.