Ódio ao ódio por Valdívia
Valdívia é alvo de dois sentimentos: amor e ódio. Inclusive, palmeirenses sofrem dessa divisão sentimental. Mas há algo de “ele é nosso e só nós podemos xingar”. Esse comportamento ficou ainda mais claro no duelo entre Chile e Holanda, na última rodada da fase de grupos da Copa do Mundo, na Arena Corinthians.
Antes do jogo era possível ver, e ouvir, diversos corintianos. Ecoavam gritos de “vai, Corinthians”, desde o embarque na estação Butantã. Normal. Afinal, uma das maiores torcidas do país, recebendo a Copa do Mundo no seu recém-inaugurado estádio, faria presença em qualquer jogo.
Porém a rivalidade era grande. Vários palmeirenses estavam no jogo, por Valdívia, claro. Tudo perceptível pela camisa amarela (a única que ficou realmente parecida com a da Seleção, DailyMail?) ou, por incrível que possa parecer, camisas do chile com o número 10 (era o meu caso).
Antes mesmo de começar o jogo a torcida gritou o nome do chileno. Palmeirenses aliados a chilenos, eram capazes de vencer o grande número de corintianos. Mas a resposta era imediata, com direito a “Timão eô”. Mas quando o jogo se mostrou fraco no primeiro tempo, os rivais se renderam ao craque palmeirense. E no intervalo o grito era mais forte.
Mesmo com o estádio todo pedindo, ainda ouvíamos, em pontos isolados, o grito mandando o Valdívia tomar naquele lugar. De um adversário, é plenamente entendível, mas e do torcedor palmeirense? Pois isso também aconteceu e acontece. É constante ver os palmeirenses xingando e pegando no pé do Mago. Não é, Diego?
Ainda no estádio, escuto um “chupa, Valdívia”, viro e me deparo com o corintiano. Não deixo pastar, respondo com o “chororô” e com a pergunta: quem é o dez do seu time na copa? (Dentro de um estádio, nem sempre, um argumento tem sentido). Na volta, no metrô, mais rivalidade. Enquanto as longas filas andavam, os corintianos puxaram o coro de “Chile, pode esperar, sua hora vai chegar”. Já nós, palmeirenses, respondíamos com “eô eô, o Valdívia é terror”. Tudo em paz, como deve ser.
Eu, confesso, sou fã incondicional. Vou além, odeio quem ousa odiar o futebol dele. Sei que ele se machucou muito e, às vezes, não demonstra vontade com o manto verde. Porém, quem joga como o nosso 10? Quais meias do Brasil jogam tanto quanto Valdívia? Se na partida diante da Holanda ele não foi decisivo, mudou o jogo. Ele tem qualidade inquestionável. Visão de jogo diferenciada. Conseguiu, em ao menos três passes, furar a retranca holandesa. Ainda assim, foi chamado de “chinelinho” por palmeirenses.
Mas, como bem disse Zamorano, quem reclama de Valdívia deve repensar suas preferências futebolísticas. Ele é grande.