Um começo nobre e promissor
É verdade que sorrir e ser palmeirense, como faz na foto ao lado o novo presidente do Verdão, Paulo Nobre, é algo que parece impossível desde o final do ano passado – a derrota de ontem, em pleno Pacaembu, para a Penapolense (!), que jogou com um a menos nos 35 minutos finais (!!), não me deixa mentir. O racha entre a organizada e os torcedores comuns, também. Mas ainda há uma luz no fim túnel, e ela é verde – de esperança e de Palmeiras. E antes que me chamem de maluco, me refiro às primeiras medidas tomadas pela nova gestão, as únicas boas notícias que se tem no Parque Antartica.
Veja: Riquelme é um dos meias mais elegantes e talentosos que vi jogar. Mas de forma alguma ele seria um boa para o Palmeiras, hoje.
Sem levar em conta as frequentes contusões, a carreira que esboça os últimos capítulos e os mais de seis meses de inatividade, o alto custo que um clube problemático e com as finanças quebradas como o Palmeiras teria de dispor para ter um jogador que, certamente, traria mais problemas, já seria suficiente para que se vetasse a contratação.
E foram, o que, além de lucidez, demonstrou coerência de Paulo Nobre com sua principal proposta de candidatura: um “choque de gestão”.
Ainda que me pareça razoável o argumento de que o argentino, algoz do Alviverde na decisão da Libertadores de 2000, pudesse contribuir com sua experiência na edição de 2013, agora pelo rival daquele ano, em quanto tempo Riquelme jogaria? Ele estaria preparado fisicamente para jogar ainda na fase de grupos? É possível que depois dela o Verdão nem esteja mais disputando a competição. E aí, então, ele disputaria a Série B no segundo semestre? Porque a ideia pode até parecer boa para o torneio continental, mas o contrato de R$ 410 mil por mês, R$ 15 mil por partida e 50% do lucro de produtos licenciados em seu nome teria período de duração de dois anos.
Resgatar um cara nas condições de “Gigio”, há tanto tempo sem jogar, só faria sentido para um time com o qual ele tivesse identificação – e a reestreia de Alex pelo Cortiba, no sábado, mostrou bem isso, ainda que o camisa 10, embora estivesse há quatro meses sem jogar, não tenha o mesmo histórico de contusões e possua função inversamente proporcional a do argentino: unir e harmonizar o elenco.
A verdade é que nem mais o Boca Juniors quer Riquelme. O interesse palmeirense no meia foi, na verdade, a última tentativa de o ex-presidente, Alberto Tirone, amenizar a imagem negativa de sua gestão, marcada pelo segundo rebaixamento da história do clube, com uma contratação bombástica. Mesmo que para isso Tirone tivesse de ferir as recomendações do Conselho de Orientação Fiscal e, se não bastasse, entregar a “batata quente” (ou seja, a decisão do negócio) para o sucessor dele. E a estratégia até estava dando certo, visto que muitos torcedores se mostraram entusiastas da transação.
Nada mais do que normal, pois se sabe que torcedor é movido por paixão. A nova gestão do Palmeiras, no entanto, precisa de consciência, trabalho a longo prazo, pés no chão e apostas cujos retornos sejam certos.
E se fosse para tirar dinheiro do cofre, Tirone tinha de ter usado a “bufunfa” para renovar com Marcos Assunção. E nem é necessário citar os vários motivos para isso, que só não são óbvios para o ex-mandatário.
De positivo na não vinda de Riquelme também há o fato de Gilson Kleina ter sido contra a contratação, apesar de não ter declarado publicamente, segundo o que informou o Blog do PVC na última quinta-feira, 24 (leia AQUI). Isso demonstra, ao menos neste início, crédito do treinador para com a nova diretoria. E deve ser do técnico, sempre, a opinião mais forte quando se trata de contratações.
Outro acerto de Nobre foi escolher José Carlos Brunoro como diretor-executivo. Claro que pelo fato de Brunoro ter sido diretor de esportes na era Parmalat, que tanto recheou a sala de troféus do Palestra Itália, mas, principalmente, porque a chegada dele sinaliza o começo dos trabalhos para a realização da promessa de profissionalização total do departamento de futebol.
Em sua campanha, Nobre falou por várias vezes em colocar um manager no Palmeiras. Não há profissional melhor para fazer isso que Brunoro, e as conquistas no Audax de São Paulo e Rio de Janeiro mostram que ele não vive, apenas, do que fez há 17 anos.
Aliás, na primeira passagem pelo Alviverde, o novo diretor-executivo demonstrou o desejo de também cuidar do departamento de futebol amador, o que a diretoria da época não permitiu. Ele fará isso desta vez.
Além do mais, Brunoro será responsável pelo departamento de marketing, que, assim como os de futebol amador e esportes olímpicos, são setores do clube extremamente mal explorados e que as recentes e elogiadas gestões de Santos, Internacional e Corinthians provaram ser importantíssimos. E se Brunoro não tem à disposição o dinheiro da Parmalat dos anos 90, agora ele tem a autonomia que sempre quis.
O novo presidente parece, também, fazer boa aposta na gerência de futebol, que, infelizmente e a contragosto dos jogadores, não terá mais o comando de César Sampaio. Apresentado nesta tarde, Omar Feitosa se mostrou bastante seguro e empolgado. Se calouro na função de gerente de futebol, o ex-preparador físico conta com a vantagem de ter trabalhado no clube de 2007 a 2011, conhecer o ambiente e parte dos atletas que compõem o elenco atual.
Por tudo isso, pode-se dizer que a primeira semana de Paulo Nobre na presidência do Palmeiras é melhor que os dois anos de Alberto Tirone no cargo. Contudo, é bom que Brunoro faça o papel de afastar os conselheiros jurássicos que vagam pelos corredores do Palestra.
Do contrário, o navio que toma rumo certo irá afundar.
Luís Gonzaga Belluzzo sabe do que estou falando…