Ele caiu, mano!
Para o bem de todos e a felicidade geral da nação, ele caiu, mano! Assim como o Palmeiras caiu na semana passada. Mas, ao contrário do que aconteceu com o Palestra paulista, a comemoração da queda do técnico do Brasil não se restringe a um estado. A demissão de Mano Menezes é ainda mais comemorada no país do que a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) obtida pelo ministro Joaquim Barbosa, o mais novo ídolo nacional.
E cá entre nós que ser técnico da Seleção Brasileira de futebol, sobretudo quando a Copa do Mundo será por aqui, é tarefa tão árdua quanto presidir o STF, ou mesmo ser presidente da República, como muitos querem ver Joaquim.
Portanto, concordo que para comandar o selecionado nacional tem de ter o culião de um Felipão. Porém, nada que me leve ao erro de acreditar que foi por isso que Mano caiu. Nada que me leve ao segundo erro de acreditar que faz sentido, agora, nos acréscimos do segundo tempo e quando o time ganhava cara de time, demiti-lo. E também nada que me leve ao terceiro erro de acreditar que, caso Felipão seja anunciado em janeiro, coisa que acho bem provável que aconteça, isso tenha sido somente porque ele aguentará, sem execração, a pressão que Mano, por bem ou por mal, aguentou durante dois anos.
Tão cristalina quanto a ausência de ética e profissionalismo que imperam na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), são as intenções do mandatário desta mesma entidade, José Maria Marin. As mesmas intenções do seu provável sucessor, Marco Polo Del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol, onde ocorreu a reunião que sacramentou a saída de Mano. Intenções que não eram as mesmas do diretor de seleções, Andrés Sanchez. Mas foram porque, ainda que ele saiba a importância de trabalhos a longo prazo, Andrés preferiu a sua própria continuidade na CBF, o que vindo de quem vem faz total sentido.
E por isso não sei se o óbvio é tão óbvio assim e Andrés, que demonstra não ter moral nenhuma na CBF, terá o poder de trazer Tite, a quem bancou quando presidia o Corinthians e a coerência faz com que seja sua indicação para a Seleção.
É evidente que Marin, que nunca aprovou Mano, inicialmente quis descobrir como a banda toca na CBF, esperou o ano acabar para, aí sim, colocar as mangas de fora e fazer do seu jeito. A primeira medida, lógico, ganhar popularidade — tudo aquilo que ele não tem. Para isso, não poderia fazer outa coisa senão tirar o cara odiado pela nação e ao qual ela atribui todos os fracassos do time Canarinho. E em seu lugar, nada mais provável do que colocar o cara que o povo quer e tem o carisma que Mano nunca teve. O cara que é consultor do Ministério do Esporte, que por várias vezes manifestou seu desejo de dirigir uma equipe na Copa-14 e que a CBF acredita poder resgatar o interesse do brasileiro pela Seleção. Felipão é o cara, diria Roberto Carlos (o cantor). Minha intuição diz que Marin reproduzirá essa fala em janeiro.
Contudo, tratando-se de CBF, nada se pode cravar.
Apenas que a equipe nacional, que já estava atrasada, deu mais alguns passos para trás em sua preparação para o Mundial de 2014.
Existiram outros momentos para demitir Mano. Não esse, em seu melhor ano na Seleção e dois dias após conquistar pela segunda vez seu único título com ela: o Superclássico das Américas, que não é grande coisa e foi sem os jogadores “estrangeiros”, mas simbolizou a boa fase.
Se seleção é momento, Tite é o que mais a merece. Mais do que Muricy, Abelão, Luxemburgo, o próprio Felipão ou qualquer outro.
A pergunta que fica é típica da ocasião: qual deles pode fazer com que o Brasil jogue o tão pedido “futebol arte”?
A pergunta que deveria ser feita é: qual deles pode fazer com que o Brasil jogue um futebol mais envolvente e vistoso que o apresentado na era Mano?
A resposta para ambas: provavelmente nenhum. Talvez Luxemburgo, que penso que não será uma boa junto com essa gente da CBF.
O complemento delas: provavelmente a melhor opção também não tenha nascido em território brasileiro.
Pep Guardiola é um sonho que agora pode virar realidade.
Mas um sonho que Marin e Andrés farão com que se torne pesadelo, é claro.