Milésimo
Paulo Soares, o amigão, gritava nos microfones da Rádio Eldorado ESPN: “Centésimo! Centésimo!”. Era o gol número 100 de Rogério Ceni. O maior goleiro-artilheiro de todos os tempos.
Na última rodada, mais um recorde quebrado: 1000 jogos com uma só camisa. Uma camisa de um clube brasileiro. Um clube de um país cujos craques são frequentemente assediados por clubes europeus.
E eu pergunto: ainda há o que dizer sobre Rogério Ceni?
Acho que não. Tudo já foi dito. Eu mesmo já o homenageei devidamente na oportunidade do seu centésimo gol.
Por isso, aqui, quero tentar levar a discussão para um outro lado. Porque pra mim Rogério é uma figura muito polêmica. Não pelo seu comportamento fora de campo, que é incontestável. Acho que ele é polêmico em termos do que representa para a história do futebol.
Me explico: todos sabem que Ceni, debaixo dos três paus, não é nem de longe o melhor goleiro do mundo. Do Brasil, tampouco. Comparável a Marcos, Taffarel, Dida, Castilho, Zetti, Manga, Gilmar, aí sim. Mas incontestavelmente melhor do que todos esses – aí não.
Bem diferente, porém, é a figura de Rogério com a bola nos pés. Nesse caso, ninguém contesta que ele está a léguas de distância de Chilavert, Higuita e outros arqueiros-matadores. Basta comparar o número de gols. Basta dizer que Rogério figura nas páginas do Guiness.
Ou seja: com os pés, o melhor. Com as mãos, um dos melhores. Se pesarmos os dois numa balança, dá pra pôr o cara em qualquer lista dos 10 maiores goleiros de todos os tempos.
Pois bem. Mesmo assim, ainda ouço muito são-paulino dizer que Ceni não é o maior ídolo do clube. Pra esses, o Raí é que é o cara.
E como se não bastasse, diariamente vejo muita gente defendendo o campeonato brasileiro por causa do Neymar, do Ganso, do Lucas. Nunca por causa de um dos maiores goleiros da história.
E eis a polêmica: pra mim, a idolatria a Ceni esbarra em dois “pecados gravíssimos”.
Primeiro pecado: ser goleiro. Segundo pecado: jogar em uma época em que a mídia só liga pra quem já se aposentou. E podemos acrescentar, ainda: ter jogado apenas em um clube, o que traz o ódio das outras torcidas e o impede de ser ídolo em âmbito nacional.
Resumindo: se não fosse assim, se Rogério fosse meia-armador, já tivesse se aposentado, e tivesse jogado também no Corinthians e no Palmeiras, aí seria o Pelé. Já que não é o caso, como diria a música do Gil, se muito for, é um Tostão…