Carta aberta de um gigante arrependido
Caro gigante,
Sei que não me conhece, mas preciso que leia urgentemente as próximas linhas. Tenho um aprendizado muito importante para compartilhar. Porém, antes que se assuste, me explico. Este que escreve é um gigante que, assim como você, estava adormecido e acordou repentinamente.
Logo que despertei, senti que trilhava o caminho certo, mas a estrada era longa, repleta de curvas tortuosas e, por isso, acabei me perdendo nela. E jamais teria entendido o que realmente havia acontecido não fosse um texto que encontrei no Facebook, escrito por um tal Cauê Madeira (clique AQUI e leia).
Como gigantes não precisam ler as publicações para curti-las na rede social, não pensei duas vezes e apertei o “botão do joinha” nessa daí também. Mas como todos os meus amigos estavam compartilhando tal post, fiquei curioso e acabei lendo o que tinha nele. Me surpreendi bastante porque aquilo fazia todo sentido e não havia lido na Veja ou assistido nos telejornais da grande mídia, as únicas fontes de informação da nossa raça.
Tivesse lido antes esse texto, meu destino teria sido diferente. E tenho certeza, amigo, que seu sentimento atual é o mesmo que tive inicialmente. Por isso, escrevo-lhe este e-mail (sim, gigantes são aficionados por internet) na tentativa de me redimir do que fiz e, ao mesmo tempo, impedir que você cometa erro semelhante.
A exemplo de você que, quando levantou da cama, se viu num estádio padrão Fifa, disputando a Copa das Confederações e sendo reverenciado pelos coxinhas, eu acordei em meio a um turbilhão ideológico, jogando o jogo da democracia (mesmo sem ter lido o manual de regras antes), levantando cartazes (que muitas vezes só comprovavam a afirmação no primeiro par de parênteses) e também recebendo o apoio de quem torceu por você.
Boleiro dos mais consagrados do planeta, você chutou a má fase de anos e recolocou o futebol brasileiro no lugar de onde nunca deveria ter saído, tal qual chutei o Haddad e o Alckmin e consegui a revogação dum aumento na passagem do “busão” que nunca deveria ter existido. Acontece que, depois, passei a chutar tudo que via pela frente sem ter um alvo definido. Qualquer descuido pode fazer com que o mesmo aconteça contigo.
O Cauê, que de “cara de pau” não tem nada, explicou algo que eu não sabia sobre nós. Embora bem intencionados, somos atrapalhados e ingênuos. Foi assim que acreditei em tudo que me falavam, lia e assistia, e acabei tropeçando logo nos primeiros obstáculos. Apesar de você não tomar leite com pera e Ovomaltine gelado, percebo que ainda é imaturo. Todos os gigantes são, afinal. Mano Menezes, seu antigo adestrador, também dizia isso. Portanto, a qualquer hora você pode despencar de tão iludido com os elogios da torcida brasileira e da crônica esportiva mundial.
Até porque você estava dormindo há pouco e, ainda sonolento, nem deve ter reparado que só venceu Copas do Mundo quando não era favorito e que em todas as oportunidades que levantou a taça da Copa das Confederações não levantou a do Mundial. Eu te entendo, porém. Também deixei de assistir às aulas de História por conta da minha hibernação.
E a situação só piora no momento em que a ingenuidade e desinformação se alia à outra característica negativa de nós, colossos: o nacionalismo exacerbado. Essa doença crônica nos faz perder o senso crítico e fechar os olhos para tudo em prol da “Pátria Mãe”. Não sei ao certo se chega a ser a “Pátria de Chuteiras”, de Nelson Rodrigues, e entendo a importância de você receber um apoio que não recebeu durante a década em que dormia, mas, de qualquer forma, vale o alerta para que não entre no “oba-oba”. Afinal, os torcedores que se empolgaram com seu desempenho nas arenas da Copa das Confederações são os mesmos que me apoiaram e me fizeram despertar.
Cuidado com a afobação. Cuidado!
Reitero tanto isso porque foi ela quem me fez voltar a dormir. Por favor, não repita esse erro.
Boa sorte e um abraço esperançoso (além de apertado) do seu primogênito,
Gigante Precursor
PS: Esta carta, escrita no último dia 7, é fruto da psicografia de algum médium militante.