Emoção, lembranças e um Galo merecedor
Quando falam em Libertadores me remeto, imediatamente, a 1999. Aquela não foi apenas a primeira e única edição vencida pelo meu Palmeiras como a primeira que acompanhei, aos 8 anos e passado um do início do meu amor pelo esporte mais amado pelo brasileiro, ocorrido à primeira vista no Mundial da França.
Desde então, Libertadores pra mim é sinônimo de suor, agonia, estádio caldeirão, clássico contra o arquirrival, pênaltis, ataque cardíaco e goleiro santo.
É como se o campeão precisasse passar por todas essas provações para conquistar a terra que Simón Bolívar libertou ao longo do século 18.
É como se na popular “Liberta”, que homenageia o feito do revolucionário venezuelano, o deus da bola libertasse os goleiros, os presenteasse com todos os créditos que recusa nas demais competições e, por isso, as defesas deles são mais lembradas que as redes estufadas pelos artilheiros. É como se nela o quase gol valesse mais que o gol inteiro.
E por mais incentivos que mereça a bola bem jogada, é inegável a importância de emoção no futebol. Fator que transforma uma batalha pela sobrevivência no mais belo espetáculo. Que humaniza um esporte que é de outro mundo.
Não à toa esse ingrediente mexe tanto com um público que tem sangue correndo em suas veias: é comum ouvir o desejo de torcedores para que um jogo eliminatório seja decidido nas penalidades máximas. Claro, de torcedores cujos clubes não estão envolvidos no embate, porque, do contrário, os únicos desejos possíveis são um farto estoque de unhas postiças e um cardiologista competente.
E por tudo isso o Atlético Mineiro de Cuca será o mais novo e merecido brasileiro a levantar a taça da Libertadores, a exemplo do que aconteceu com outro alvinegro no ano passado, o Corinthians de Tite.
Afinal, antes mesmo de enfrentar um Olímpia acostumado a decidir o torneio, o Super Galo uniu um futebol vistoso à transpiração necessária e superou todas as provações.
Não houve quem saísse vivo do Horto, bairro onde fica o Independência que a nação atleticana transformou em caldeirão. Torcida que joga tão bonito quanto a dupla Ronaldinho-Bernard e é tão responsável pelo sucesso quanto todo o time.
Time que, na ausência dos inimigos mortais cruzeirenses, rivalizou quatro vezes com o São Paulo de Rogério Ceni, arqueiro goleador cujo sobrenome deveria ser Libertadores.
Time que sobreviveu a duas disputas seguidas por pênaltis, com os requintes de crueldade possíveis, ante o mexicano Tijuana e o argentino Newell’s Old Boys, no segundo caso após reverter a derrota por 2 a 0 na partida de ida. Só reversível para quem já pintou a pinta de campeão no rosto.
Time que jamais a teria pintado não fossem os milagres de Victor, o santo de 2013.
Time dono da melhor campanha na primeira fase que, repito, merece ser o melhor também nessa finalíssima inédita para os mineiros.
Assim como Cuca merece o reconhecimento que sempre esbarrou no descontrole emocional. E virá numa Libertadores que é só emoção.