Libertadores não deve "encolher" e sim corrigir problemas pontuais
O novo presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), Eugenio Figueredo, tem razão quando diz que a Libertadores precisa aumentar o nível técnico e de arbitragem. Mas se engana ao acreditar que isso seja um problema da competição.
Ao defender uma mudança na Libertadores de 38 para 20 participantes, o sucessor de Nicolás Leoz atenta-se apenas à consequência, e se esquece do mais importante: a causa.
O futebol sul-americano é repleto por times com história, tradição e torcedores pra lá de fanáticos, mas que, com exceção aos brasileiros, estão falidos. E tal quadro é reflexo da atual diferença de poderio econômico entre o Brasil e os demais países da terra de Simón Bolivar. Exatamente por isso, deveria ser de interesse da confederação responsável pela bola jogada na América do Sul se preocupar com os grande clubes do continente, e não se contentar com a decadência deles. Propor um campeonato excessivamente enxuto favorecerá justamente quem ainda tem alguma grana, o que só aumentará a tendência de as equipes falidas morrerem e de uma hegemonia brasileira na Liberta.
O mesmo acontece com a arbitragem. Ela não é fraca e conivente com a violência e “cera” por conta da Libertadores, mas porque boa parte dos juízes e auxiliares é mal preparada, caseira e adepta ao deplorável “isso é Libertadores”. Erros que, obviamente, passam pela não profissionalização da classe. Outra preocupação que deve ser da Conmebol, assim como deve ser da Fifa, claro.
E este é o ponto: a Libertadores não precisa de mudanças na fórmula de disputa, mas sim de organização e exploração de sua marca. Também precisa exigir condições mínimas (não jogar na altitude é uma delas) e maior segurança dos estádios que irão comportar as partidas – o que significa deixar de cultuar a barbárie.
No quesito marketing, também identificado por Figueredo em entrevista ao jornal chileno La Tercera, me parece existir uma contradição: reduzir o número de vagas de Brasil e Argentina de cinco para duas só fará com que as emissoras paguem menos pelos direitos de transmissão do torneio, e a intenção do presidente – ou ao menos o que ele falou – é justamente aumentar as cotas de TV.
Além das dez vagas divididas igualmente entre brasileiros e argentinos e uma garantida para o último campeão, o modelo atual oferece três vagas para Uruguai, Chile, Paraguai, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia e México, este último convidado da Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (Concacaf), o que contabiliza 38 participantes – seis deles que disputam a primeira fase, que antecede a de grupos.
Até penso que entre eles poderia ter times norte-americanos, Sim, talvez alguns dos problemas citados possam ser resolvidos com a unificação das competições principais da Conmebol e Concacaf, como já se sugeriu e defendeu antes. Sem achar que tudo de lá é bom e sem “complexos de vira-lata”, aprender com os Estados Unidos sobre a organização de grandes eventos seria uma boa.
Antes, porém, é necessário que se entenda por que o resfriado futebol sul-americano espirra.
*Este texto foi publicado originalmente no Yahoo! Esportes, em 29 de maio.