A lição do Mogi
Ontem, torci pro Mogi.
Mas antes que me xingue, me chame de imparcial ou algo do tipo, me justifico, querido leitor santista.
Não tenho nada contra o seu clube ou contra qualquer outro – exceto os fundados por empresários, quase sempre desprovidos de torcida e nômades de identidade e moradia, e todos quando abastecidos com dinheiro de procedência duvidosa. Acontece que, para o bem do Paulistão, o Sapão precisava vencer.
Digo isso porque ter na decisão um time do interior, que se doou a semifinal inteira e, com casa cheia, superou o atual tricampeão da competição, alertaria para quem realmente faz sentido o campeonato estadual. A eliminação do Santos, desmotivado durante todos os noventa minutos, alertaria o que significa o Estadual para os grandes.
E embora se saiba de tudo isso, o resultado final é o que acaba valendo, mesmo que nem sempre traduza o que de fato foi o jogo, como adverte uma das máximas deste esporte.
Sei que aqui mesmo já bati muito nessa tecla, mas não posso deixar de bater enquanto o Campeonato Paulista for sinônimo de perca de tempo. Já passou da hora de mudar. Não importa muito qual seja a fórmula de disputa desde que ela priorize os clubes do interior e os clássicos, diminua consideravelmente as datas para os grandes e os coloque apenas na fase de mata-mata – e não de mata, Del Nero!
(AQUI, a sugestão do amigo e jornalista Renan Rodrigues; uma das várias opções melhores que a atual)
Ou, então, que acabe para os grandes.
Porque o Paulistão só deixará de ser paulistinha quando for feito para quem lhe quer. Quando fazer das equipes interioranas fortes, com chance de título em todas as temporadas e com torneios para disputar até o final do semestre. Quando o campeonato for acirrado, atraente a ponto de ter bom público e os clássicos empolgarem.
O que se viu na edição deste ano, no entanto, foi um torneio tecnicamente ainda mais fraco que os anteriores, com clássicos modorrentos e às moscas. Como também se viu os estádios em várias outras partidas, exceto por duas do Botafogo, pela de ontem do Mogi e algumas de Corinthians, São Paulo, Santos e São Bernardo, em ordem os donos das melhores médias de público, que não são expressivas para os três primeiros. Um campeonato que o trio paulistano, atento à Libertadores, deixou pra escanteio e, mesmo assim, sem querer querendo, se classificou. O Tricolor, em primeiro, pra ter noção do nível de dificuldade.
Daqui a pouco, pela outra semifinal, são-paulinos e corintianos se enfrentarão num eletrizante Majestoso, que só não deve ter sua voltagem diminuída devido à Liberta porque ambos perderam seus compromissos de ida na competição continental e a situação só piorará na volta para quem for eliminado hoje.
Até mesmo o Santos, que apenas divide a atenção com a Copa do Brasil e em tese teria o incentivo de, pela primeira vez, chegar à quinta final estadual consecutiva e conseguir o também inédito tetracampeonato paulista no futebol profissional, só se lembrou disso quando a semifinal tinha ido pros pênaltis e a chance de título, quase pro ralo.
O Mogi Mirim, repito, lutou, lotou, revelou, goleou, brilhou nas duas fases. Merecia.
Sobretudo, o Paulistão merece uma sobrevida. Os clubes do interior merecem um Paulistão para eles. E os grandes merecem um Paulistão que não os atrapalhem.
A vitória do Mogi poderia ter nos ensinado isso.