Aposta (aparentemente) válida
É óbvio que a coerência deveria fazer com que Dorival Júnior ficasse, pelo menos, até o término do Estadual.
Afinal, o Flamengo passa por reformulação total – em campo e fora dele – e mesmo sem jogar bem em boa parte das vezes, venceu oito das nove partidas (91,7% de aproveitamento) da primeira fase da Taça Guanabara e só foi perder na competição num clássico contra o Botafogo, em duelo eliminatório.
Também é óbvio que, tecnicamente, Mano Menezes é a melhor opção no atual mercado de treinadores brasileiros.
Mas já que Dorival foi chutado e Mano exige salário de no mínimo R$ 500 mil, além de não demonstrar querer voltar tão cedo a trabalhar, pode-se dizer que Jorginho é uma aposta válida. Bem mais válida que, por exemplo, o rodado Celso Roth, outro nome que chegou a ser cogitado.
Sim, uma aposta, pois o Flamengo é o primeiro clube grande que o camisa 2 do Rubro-Negro campeão nacional de 1987 dirige desde que, em 2006, iniciou a carreira de técnico no América carioca.
E é exatamente a identificação com o Flamengo, time pelo qual ganhou 12 títulos, disputou 188 jogos e marcou sete gols, em cinco anos de serviços prestados, que nutre minha confiança, de Zico e do presidente do Mengo, Eduardo Bandeira de Mello, em Jorginho.
Aliás, a indicação do Galinho, que pertence ao Conselho Gestor de Futebol do Fla e com quem Jorginho tem amizade e jogou no clube de 1985 a 89, é uma respeitosa credencial. E da mesma forma pode-se adjetivar o fato de Zinho, então diretor de futebol do Flamengo, ter tentado contratar o lateral-direito do Tetra no final de julho do ano passado, antes de acertar com Dorival, que era a segunda opção para substituir Joel Santana.
Também contam a favor do novo comandante o salário dentro dos padrões adotados pela atual gestão flamenguista (ao lado da questão técnica, o principal motivo para a demissão de Dorival Júnior, segundo o Blog do PVC), o fato de ele pertencer a uma nova e estudiosa geração de treinadores e, principalmente, a ascensão de uma carreira que tem apenas seis anos – desconsiderando os quatro em que foi auxiliar técnico de Dunga na Seleção Brasileira, de 2006 a 2010.
Em 2011, Jorginho quase classificou o modesto Figueirense para a pré-Libertadores e foi um dos melhores técnicos daquela edição de Brasileirão. Na temporada seguinte, pelo Kashima Antlers, do Japão, Jorginho conquistou a Copa da Liga (equivalente à Copa da Liga Inglesa, na Inglaterra, e menos prestigiada do que é a Copa do Brasil, por aqui) e, apesar de terminar o campeonato nacional na 11º colocação, deixou boa impressão aos japoneses.
Na passagem pelo Figueirense, o treinador demonstrou aptidão para lapidar jogadores jovens: os laterais Bruno Vieira, na época com 25 anos, e Juninho, com 21; o meia Maycon, com 25, e o atacante Héber, com 19, são alguns exemplos que se destacaram naquele time, e os três primeiros pertencem, hoje, a Fluminense, Palmeiras e São Paulo, respectivamente. E revelar bons atletas é uma tradicional caraterística que a equipe da Gávea perdeu nos últimos anos. E que deveria ser cobiçada por todos os principais clubes brasileiros, a propósito.
Porém, se aparentemente positiva, o que pode fazer a aposta em Jorginho não vingar, além de uma eventual falta de tempo para trabalhar, que demitiu Dorival, são questões que não dizem respeito às quatro linhas.
O fato de ser assíduo frequentador de uma igreja evangélica fez com que o ex-lateral, quando treinava o América-RJ, quisesse trocar o mascote do time, um diabo, por uma águia.
Dono de um temperamento forte, Jorginho também se mostrou, na Copa do Mundo de 2010, o mais ferrenho seguidor de Dunga nos ataques descompassados do então comandante da Seleção à imprensa brasileira, que igualmente deveria ter sua culpa registrada no cartório, diga-se.
A nação rubro-negra, no entanto, espera que se concretizem as palavras de Jorginho na apresentação de hoje, e a religião não interfira no trabalho e a experiência como auxiliar técnico do Brasil num Mundial tenha servido, apenas, como estágio para dirigir um clube do tamanho do País, como é o Flamengo.