Os desafios de Sabella
Muita gente se decepcionou com a tal Copa Roca, e com o jogo entre Brasil e Argentina.
Não foi o meu caso.
Não que eu tenha achado um jogaço, nem nada do tipo. Pelo contrário. Mas, também, não esperava grande coisa de uma seleção que tem Renato Abreu entre seus titulares.
Na verdade, minhas expectativas quanto ao clássico iam para um só lugar: a dupla de ataque verde-amarela, formada por dois jogadores nos quais deposito grandes esperanças pra 2014. E, depois do rápido entrosamento entre ambos, dos dribles de Neymar e da carretilha antológica de Damião, devo dizer que fiquei satisfeito.
Aliás, devo dizer que até a Argentina me saiu melhor do que a encomenda. Antes do jogo começar, achava que a albi-celeste seria goleada.
Sim: o selecionado que enfrentou o Brasil na noite dessa Terça-Feira era muito inferior ao time de Mano Menezes. E por uma razão simples: lá, também só foram chamados os jogadores que atuam no país. E sabemos que a situação atual do campeonato argentino é bem diferente da situação atual do Brasileirão.
Na verdade, os clubes de lá, atualmente, passam, quase todos, por crises financeiras complicadas.
Como se não bastasse, o Estudiantes e o Vélez, que formam a base da seleção hermana, estão aos poucos se esfarelando. O primeiro, campeão da Libertadores em 2009, é o atual lanterna do Apertura. O segundo, após perder seus melhores nomes para clubes italianos, figura na 9ª posição desse mesmo campeonato. E são esses os dois times que formam a base da equipe que enfrentou o Brasil.
Ou seja: a Argentina que empatou com Renato Abreu e companhia, está longe de ser a que vai jogar a Copa de 2014.
E aí você pode perguntar: “pra que raios, então, a Copa Roca serve para nossos hermanos?”. Resposta: nada. Ou quase nada.
Mano Menezes, por exemplo, encontrou no “torneio” a chance de testar Dedé e Damião, e se deu bem com os dois. Para Neymar, que é uma aposta gigantesca, também serviu pra ganhar experiência.
Só que, na Argentina, o técnico Alejandro Sabella não testou ninguém. Do contrário, apenas cumpriu com o protocolo e convocou um punhado de nomes. E fez isso por uma razão simples: os verdadeiros craques argentinos jogam na Europa.
Dessa forma, para Sabella, jogo de verdade vai ser quando ele puder contar com Aguero e Pastore, que estão quebrando tudo no velho continente. Sem falar, claro, em Lionel Messi.
Quando for o caso, aí o técnico poderá resolver seus problemas. Poderá pensar em alguém que componha o meio-de-campo, de modo a não deixar esses atacantes talentosos correndo perdidos lá na frente. E para essa tarefa, poderá chamar Morález, do Atalanta; Valeri, do Lanús (cortado da Copa Roca); ou mesmo Conca. Por enquanto, até podia ter testado o jovem Diego Morales, do Tigres, mas não quis (o que eu critico).
Questão mais difícil, porém, será compor a defesa, já que Desábato, Ré, Sebá e Papa são piadas de mal gosto para a seleção. Outra empreitada será achar volantes mais talentosos do que Mascherano (pode até ser o caso do bom Canteros).
Enfim, o importante é que Sabella está tentando. Só não conseguiu, por enquanto, convocar quem precisa. Por isso, se você quer ver a Argentina de verdade, sinto muito, mas vai ter que esperar um pouco.