Onde os bebês nascem gritando gol
Em primeiro lugar, caro leitor, permita-me desculpar pelos erros ortográficos, pois estou escrevendo em um teclado sem acento.
Dito isso, permita-me dizer-lhe: nunca vi povo tao fanático por futebol quanto o uruguaio.
Assisti à final da Copa América na Plaza Intendencia, com mais ou menos quatro mil charrúas. Foi inesquecível.
Na verdade, desde que cheguei, já fazia ideia do que me aguardava: um guia da operadora de TV local tinha, na capa, os seguintes dizeres: “nesse mês só pensamos em uma coisa: futebol”. É bem por aí, mesmo.
Hà dois dias, aqui em Montevideo, nao há uma televisao que nao fale da històrica campanha da Celeste na Argentina.
Na rua, camisas de Forlan, Cavani (!) e Abreu sao tao comuns quanto as cuias de mate. Todos so querem saber da selecao.
Quando Sálvio apitou o final da partida de ontem, entao, a loucura foi total. Todos partiram em massa rumo ao Centenario. Às 3 da manha de Domingo, mesmo tendo que trabalhar no dia seguinte, a multidao nao arredou o pe da “cancha”, e esperou os jogadores-heróis até eles chegarem.
As ruas, também, estavam todas tomadas. Bandeiras pendiam de todas as varandas. Parecia uma revolucao.
Fico pensando o que fez com que nós, brasileiros, perdessemos essa relacao com nosso pais.
O grande numero de conquistas recentes, talvez. A maior paixao pelos clubes, é outra.
Ou talvez, quem esteja certo seja um uruguaio, torcedor do Nacional, com quem conversei ontem: como os clubes do país estao em estado de penuria, quando uma equipe que representa o pais se torna grande, todo mundo embarca. Por ser a selecao, entao, a rivalidade entre os clubes acaba e todo o país se une.
De qualquer forma, espero que os uruguaios saibam aproveitar esse momento para se reerguer. A paixao deles pelo esporte é incomparável, e nao pode ser saciada apenas de vez em quando em uma Copa América.
É hora do país aproveitar sua nova safra de jogadores para fortalecer seus clubes, para fazer a selecao brilhar em escala mundial e nao apenas esporadicamente.
Os uruguaios merecem. O grande escritor charrúa Eduardo Galeano já dizia: nós já nascemos gritando gol. E eu que pensava que era só uma metáfora…