Futebol sem graça
Vi muitos jornalistas elogiarem Marcos por, “eticamente”, não ter ido bater o pênalti que originou o quinto gol palmeirense, no último domingo, contra o Avaí.
E, de fato, o goleiro foi bem ao preservar o seu companheiro de posição, Alexs, que teria de defender a cobrança. Tal como Felipão, ao imediatamente se mostrar contra e exigir que o batedor oficial, Kléber, efetuasse a penalidade.
Todavia, nesta história, é necessária uma ponderação que nos leva à uma reflexão bem mais significativa que o caso em si: tais acertos só não são erros, porque no futebol moderno vigora um estranho senso de ética.
Nele, impera uma asquerosa falsa demagogia em detrimento do espetáculo e suas conseguintes implicações.
Por qual motivo seria anti-ético Marcos, com 4 a 0 a favor, bater um pênalti?
Com os seus próprios méritos, obtidos dentro de campo, o Palmeiras construiu a goleada e, consequentemente, a condição de dar-se ao luxo de transformar uma penalidade máxima em homenagem ao seu maior ídolo. Aliás, essa justificativa- a homenagem dos jogadores a Marcos – torna ainda mais absurda uma hipotética sensação de menosprezo por parte dos jogadores do Avaí.
Seria, pelo contrário, um importante capítulo deste imenso e interminável livro chamado futebol, onde os avaianos estariam honrosamente inseridos. Para os torcedores alviverdes que estavam no Canindé, decerto, um momento inesquecível.
Mas não. No futebol sem graça que se prega hoje, não pode.
O que pode é Chicão, por ter tomado um chapéu com o jogo parado, dar um esporro no seu driblador e ainda sair como vítima.
Neymar, por ter errado uma vez a paradinha, dentre as dezenas que acertou, ser rotulado de irresponsável.
Carlitos, por no finzinho dos partidas difíceis prender a bola na marca de escanteio, ser tido como anti-ético.
Edílson, então, ao fazer embaixadinhas contra o maior rival numa final, um verdadeiro crápula. Enquanto Valdívia tem hora e data marcada para poder, ou não, executar o seu famigerado “chute no vácuo”.
Não à toa Abreu é chamado de “loco”. Não é fácil ser contemporâneo a um futebol pouco afeito à criatividade.
Ainda bem que pude ver Higuita (no fim de sua carreira), Chilavert, Jorge Campos e Rogério Ceni. Pois, pelo andar da carruagem, as chances de surgir alguém como eles, que fuja da mesmice, são mínimas.