As chuteiras abertas da América Latina: Muchas grácias, Titán!
Moreno, Sanfilippo, Batistuta, Valdano, Crespo.
Uma coisa é certa: o futebol argentino sempre produziu grandes centro-avantes.
E não é que, no fim de semana passado, mais um deles se aposentou?
Seu nome? Martín Palermo, carinhosamente apelidado de El Titán por uma das torcidas mais fanáticas do mundo.
Talvez você se lembre dele pelos três pênaltis perdidos contra a Colômbia, na Copa América de 99.
Acontece que, quando se fala em Palermo, certamente não é essa a imagem que vem à cabeça dos argentinos.
O cara é o maior artilheiro da história do Boca. Só com a camisa azul-amarela, tem 287 gols marcados.
Além disso, é parte do livro dos recordes, graças a um gol de cabeça que fez de fora da área, a quase 40 metros de distância da trave adversária.
Não bastasse, é bi-campeão da Libertadores, sendo um dos maiores símbolos da mais importante geração da história boquense.
Não sabe bater pênalti? Sim, é fato. Mas com todas as informações acima, não é de se estranhar que seus torcedores não se lembrem desse detalhe.
Isso porque Palermo é um ídolo. E isso ficou muito claro quando, no Domingo passado, o centro-avante se despediu em seu melhor estilo: com um gol de cabeça, diante do River.
Depois do gol, chorou, e declarou eterno amor à Bombonera. Hoje, tem uma estátua própria no estádio, em sua homenagem.
O mais interessante, porém, talvez seja observar como um dos ciclos mais vitoriosos do futebol Latino-Americano está prestes a se encerrar.
Do time do Boca que tirou o sono do torcedor brasileiro na década de 90, só sobrou Riquelme. De resto, de Oscar Córdoba ao artilheiro Marcelo Delgado, todos os ídolos do clube já pararam.
E, talvez, nenhum deles tenha representado tão bem o sentimento “Xeineze”, quanto Palermo.
E talvez, com isso, nos fique mais fácil compreender porque o clube de La Boca, hoje em dia, não mete mais medo em ninguém.
Na verdade, hoje, várias transformações já aconteceram. O elenco envelheceu e, em contrapartida, não conseguiu produzir uma juventude à altura.
Do mesmo modo, revelações como Palacio, Gago e Dátolo saíram do clube sem deixar muito dinheiro.
Pra coroar, o técnico Julio Cesar Falcioni é ultra-retranqueiro e, sempre que indica alguém à diretoria, é um jogador de qualidade duvidosa, como Ervitti. ex-Banfield.
Resultado: o brasileiro, no geral, nem se lembra mais que o Boca Juniors existe.
Acontece que, se algum dia isso foi diferente, isso se deve, em parte, a Martín Palermo: um gênio, pelo menos na arte de empurrar a bola, rolando, para dentro do gol.
E é por isso que, se você se lembra do centro-avante como um perdedor de pênaltis inveterado, reconsidere: o cara foi craque.
Sem ele, com toda a certeza, o futebol vai perder muita graça. Por isso, deixo aqui minha homenagem: Muchas grácias, Titán. Que a Argentina produza mais jogadores como você.
*Excepcionalmente nesta Sexta-Feira, por conta do Guia do Brasileirão que preencherá todo o final de semana, “As chuteiras abertas da América Latina” foi publicada. A partir da próxima semana, ela volta a sua periodicidade normal. Todos os Sábados, neste mesmo espaço, Gabriel dos Santos Lima assina esta coluna sobre futebol sul-americano.