100 vezes Rogério
20 anos de carreira, 100 gols marcados, 4 títulos brasileiros, uma Libertadores, um Mundial.
Tudo isso com uma só camisa.
A essa altura, existe alguma coisa que ainda não tenha sido dita sobre Rogério Ceni?
Reposta: certamente não.
Por isso não vou ficar chovendo no molhado. Quem me conhece, sabe que eu sou São-Paulino.
Quem não me conhece, agora fica sabendo. E existem colunas que se escrevem com o cérebro, como sempre fazemos aqui no Futeboteco.
Acontece que, agora, esse não é o caso.
Rogério é um ídolo e, como ele, só existe um em atividade no Brasil: Marcos.
Além disso, Rogério é um fenômeno.
Muitos atacantes já fizeram 100 gols. Nenhum deles era goleiro.
Comete falhas? Sim, como qualquer outro.
Mas faz defesas brilhantes, como no jogo contra o Liverpool. E tem mais: joga bem com os pés, lidera o time em campo e, fora dele, fala como dirigente, pois tem gabarito para tanto.
Resumindo: sem dúvida, um jogador único.
E aí é que entra o coração. Minha história como Tricolor tem muito a ver com o goleiro, do longínquo dia em que fui ao CT da Barra Funda pela primeira vez, até ontem, quando chorei ao comemorar o centésimo.
No entre-tempo, momentos mágicos, como o Tri das Américas, do Brasil e do mundo.
Ou então como o pênalti de Coelho, espalmado aos 45 do segundo tempo, quando o placar do Majestoso marcava 1 x 0 para o São Paulo.
Mais do que tudo isso, porém, lembro do dia em que peguei seu autógrafo e disse que o Tricolor seria campeão mundial, ao que Rogério respondeu: “vamos ser sim, pode deixar”.
Meses depois, a mesma mão que eu apertei aquela tarde buscaria, no ângulo, a falta cobrada por Gerrard e, posteriormente, levantaria a taça do campeonato. Uma daquelas histórias que mostra, emblematicamente, por que o capitão São-Paulino é a própria personificação do conceito literário do herói: uma figura que, sozinha, salva o dia de muita gente.
Afinal, não foi isso que Ceni fez ontem?
Pois então.
Justamente por isso, como jornalista e torcedor, me entristeço ao ver meu herói de infância receber a Taça das Bolinhas das mãos da CBF, ao mesmo tempo em que apoia a reeleição despótica de Juvenal Juvêncio.
Que Rogério ama o São Paulo, não tenho a mínima dúvida.
Lamento, porém, que ele não seja capaz de perceber o que a máfia de amarelo quer fazer com o clube.
Eu, e creio falar por toda a torcida são-paulina, adoraria que o presidente do meu time fosse meu ídolo, ao invés de um latifundiário representante da corja do Leco.
Em outras palavras, adoraria que o presidente do São Paulo, ao invés de Juvenal Juvêncio, chamasse-se Rogério Ceni.