Filho único
Voltava da faculdade quando recebo um “sms” de meu amigo Paulinho, dizendo que estava no Pacaembu e acabara de ser entrevistado pela turma do Pânico. Na sequência, ainda pelo manuscrito digital, reitera o convite para comparecer a um futebol semanal entre amigos nossos, que acontece aos sábados.
Ao chegar em casa, ligo a tevê e descubro o porquê da mensagem: o jogo estava tão bom que ele precisava de outra distração que não a peleja entediante.
À essa altura, o primeiro tempo sonolento se encerrava e, diante do que se viu nele, era improvável aguardar coisa melhor na segunda etapa.
A propósito, a constatação do motivo pelo qual o Timão ficou, logo de cara, pelo caminho na Liberta, se evidencia a cada vez que o atual timinho entra em campo.
A tragédia já era anunciada quando revelada a lista de inscritos para a Libertadores, e lá se encontrava jogadores os quais, em outrora descartados, compunham o elenco por falta de opções melhores: Moradei, Marcelo Oliveira (voltando de um longo período de inatividade e agora titular com a saída de RC), Morais, Edno…
Leandro Castán como substituto do capitão William – o qual, é verdade, já há algum tempo não era mais o mesmo e muito por isso pendurou as chuteiras precocemente – é símbolo da ausência de reposições nessa temporada.
E é exatamente por conta dos excessos que, o Corinthians, nos dois últimos anos, nem de longe chegou perto de conquistar a América.
No ano do Centenário contratou “até dizer chega”. Trouxe Tcheco, Iarley e mais um pacotão de gringo-ruim (Escudero, Balbuena e, no segundo semestre, Bobadilla) com esperança que a suposta experiência deles no torneio sul-americano servisse de alguma coisa.
Não serviu.
E a Fiel, na mesma proporção, caiu matando.
Só não caiu mais porque logo veio a festa do Centenário e, culminando com as chances reais de conquista do Brasileirão, os dias, aos poucos, se tornaram mais amenos no Parque São Jorge. A decepção da perda do nacional – como é natural – veio, mas nem de longe se equipara a saída da Libertadores.
Agora, nesse ano, foi justamente o descaso que atrapalhou.
Ou a espera por uma provável classificação ante o Tolima – que como sabemos, não veio a acontecer – para, aí sim, ir às compras.
Dessa vez em proporção maior a do descaso, os torcedores, movidos pela paranóia cuja toda campanha corintiana em Libertadores é norteada, tonaram a “cair matando”.
E a última frase por pouco não passou do sentido figurado para o literal.
Isso porque, vândalos que se dizem torcedores, sem saber protestar, foram brincar de tal.
Saíram ameaçando o incoerente Roberto Carlos que, nesse caso, em sua razão, preferiu o frio da Rússia a jogar sob a pressão descomunal exercida pela Fiel Torcida.
Nessa entoada, Ronaldão aproveitou a deixa para abandonar a carreira.
Jucilei tem tudo pra ser o próximo, não a abandonar o futebol, mas, sim, o Corinthians.
Pra piorar as coisas, Chicão saiu machucado ainda no primeiro tempo do embate contra o Mogi.
Não à toa o jogo de ontem foi insosso.
E esse mérito não pertence tão-somente a fraquíssima equipe adversária.
A ausência de qualidade no elenco alvinegro, a cada 24 horas que passam, se torna maior com o surgimento dum novo déficit.
A esperança no mediano Ramirez, é prova disso.
Tite, em sua pior fase, ainda ajuda sacando Bruno César – que não é craque, mas certamente a melhor opção no setor – e, em seu lugar, colocando o inoperante Danilo para conectar o meio com o ataque.
Nem pra colocar Morais o qual, embora longe dos tempos áureos de Vasco, com tantas ausências, passa a ter sua mobilidade como imprescindível para o time.
Outro que não é gênio, no entanto, nesse time também não dá pra ser reserva, é Dentinho.
Diferente, somente Liedson, filho único nesse plantel.
O único grande avanço pra quem tinha o estacionário Ronaldo perdido lá na frente.
Porém, no caso do luso-brasileiro, muito mais por sua qualidade do que pela falta dela no seu ex-companheiro de profissão que, desde o final do ano passado, é ex-fenômeno.
Aliás, Liedson está num nível muito acima dos demais.
Até estranhei a facilidade com que saiu do Sporting, onde é idolatrado.
Claro que a vontade de voltar ao Brasil, mais precisamente ao seu Corinthians, foi primordial.
Tal como o físico privilegiado e o conseguinte cuidado que tem com ele, foi para que chegasse a apenas um dígito a menos que Ronaldo, jogando como quem jogava aos 23 no Coritiba.
Aqui no blog (lembre ou relembre), sentenciei que Fred, na condição de o mais qualificado centro-avante em atividade no país, tinha tudo para, na prática, executar aquilo que a teoria dava conta de idealizar.
Há época, Levezinho ainda não havia sido repatriado pelo Coringão.
Agora será concorrência das mais árduas para o avante tricolor.
O destino de suas equipes no decorrer da temporada implicará diretamente em tal disputa particular.
Time por time, nem é necessário citar que o Flu, hoje, dá um chocolate nos alvinegros.
O medo corintiano está na lembrança de 2005, quando foram campeões.
E hoje, Liedson ser para o Corinthians o que Róbgol, naquele ano, foi para o Paysandu.