As chuteiras abertas da América Latina – Guia da Libertadores: Grupos 3 e 4
A frase do colunista José Geraldo Couto sobre a eliminação corintiana é lapidar: “o futebol é talvez o único esporte do mundo em que uma desigualdade flagrante entre duas equipes não determina de antemão o resultado de seu confronto”.
É pensando nisso que abro mais uma coluna, a segunda da semanal “As chuteiras abertas da América Latina”.
Porque, se Liverpool, Bolívar, Deportivo Petare, Corinthians, Deportivo Quito e Alianza Lima já caíram fora, o campeonato está apenas començando.
Vamos aos grupos C e D:
Grupo C:
Argentino Juniors – Argentina
Estádio: Diego Armando Maradona
Técnico: Pedro Troglio
Destaque: Santiago Salcedo
O Argentino Juniors é para o futebol argentino, mais ou menos, o que o América do Rio de Janeiro é para o futebol brasileiro: um time simpático. Acontece que, se você prestou atenção no nome do estádio acima, deve ter imaginado que “los Bichos” são ainda mais simpáticos do que parecem. Sim, porque foi com a camisa do clube que Diego Armando Maradona deu seus primeiros chutes como jogador de futebol profissional. Mas tem mais. Diferente da maioria dos times brasileiros chamados “simpáticos”, os Juniors já ganharam alguma coisa: mais especificamente, a Libertadores de 1985, quando tinham o atual treinador da seleção argentina, Sérigo Batista, como grande craque. Aliás, essa talvez seja a maior esperança da torcida tricolor: ter faturado a única Libertadores da qual fez parte. Fora isso, porém, nada com que se animar. O elenco é fraco, a defesa é frágil, Ojeda é um goleiro inseguro e o grande craque da equipe, o meia paraguaio Ortigoza, foi vendido para o San Lorenzo. Além disso, outra peça importante do meio-campo também deve deixar o clube nos próximos dias: o armador Mercier está com um pé no Racing. Ao menos o clube trouxe Santiago Salcedo, artilheiro da edição de 2005 pelo Cerro Porteño. Contudo, não deve ser suficiente para escapar da última posição, ainda mais em um grupo que, como veremos adiante, merece ser chamado de “da morte”.
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Fluminense – Brasil
Estádio: Engenhão
Técnico: Muricy Ramalho
Destaque: Darío Conca
No comando, o tetra-campeão brasileiro Muricy Ramalho. No banco, o internacionalmente famoso Deco, ex-Barcelona e Chelsea. No ataque, aquele que, segundo o Barão, tem tudo para ser o melhor atacante do Brasil esse ano: Fred. E por último, mas não menos importante, o Bola de Ouro do Brasileirão 2010: a estrela da companhia, Darío Conca. Que torcedor, nas Américas, não sonha em ter um elenco desses vestindo a camisa de sua paixão? A bem da verdade, o Fluminense, atual campeão brasileiro, tem tudo para se classificar bem, mesmo estando em um dos grupos mais difíceis do torneio. O problema será superar a fórmula de mata-mata, que já derrubou o Flu em duas finais de campeonato recentes e já fez Muricy perder a Libertadores quatro vezes. Um ano para exorcizar esses fantasmas? Quem sabe. É uma aposta segura.
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Nacional – Uruguai
Estádio: Centenário
Técnico: Juan Ramón Carrasco
Destaque: Marcelo Gallardo
É isso mesmo que você leu: Marcelo Gallardo, ex-River Plate e carrasco do Corinthians em 2006, ainda não se aposentou. O meia decidiu dar o ar da graça, esse ano, em um dos clubes mais tradicionais do torneio. O problema é que esse clube já não assusta ninguém a tempos. Quer dizer, em termos de participações em Libertadores, os tricolores são quase recordistas, até porque, afora o rival Peñarol, a concorrência do campeonato uruguaio não é grande. O problema é que a sina se repete todo ano: classificação tranquila e queda nas quartas, ou oitavas, de final. O bom é que parece que, dessa vez, “El Naça” decidiu fazer bonito. Apesar de ter perdido o experiente meia Regueiro, destaque da campanha 2010, trouxe para seu lugar o jovem Robert Flores, ex-Villareal. Além disso, manteve o bom atacante Viúdez, além da defesa titular, formada pelo velho Lembo e o novo Coates, ambos cobiçados por outros clubes. Assim sendo, deve brigar feio com o América pela segunda vaga. Ah! E se você for corintiano, não se assuste: o Carlão é aquele mesmo!
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América – México
Estádio: Azteca
Técnico: Manuel Lapuente
Destaque: Matías Vuoso
Tivesse caído em um grupo mais simples, pode apostar que o América classificava fácil. Com alguns jogadores da seleção mexicana, mais alguns nomes experientes, o time é um dos mais fortes da forte liga local. Alguns de seus nomes são velhos conhecidos: o goleiro-galã Guillermo Ochoa, o experiente lateral Rojas e o mais experiente ainda meia-armador Pavel Pardo. Não bastasse, a diretoria “milloneta” que recebeu a injeção de alguns dólares da progamadora de TV local, ainda trouxe o rápido atacante uruguaio Valter Sánchez, os meias Montenegro (ex-Independiente) e Oliveira (destaque do Puebla), e o xerifão colombiano Mosquera, ex-Sevilla, para compor o miolo de zaga. A maior aposta, porém, deve ser um nome ainda pouco conhecido dos brasileiros: o jovem atacante Matías Vuoso, grande destaque das divisões de base do clube. Por tudo isso, mais o famigerado calor do Estádio Azteca, os azul-cremas são de se respeitar.
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Grupo D:
Caracas – Venezuela
Estádio: Olímpico
Técnico: Ceferino Bencomo
Destaque: Angelo Peña
Afora o experiente goleiro Renny Vega, o trunfo dos venezuelanos de Caracas é, basicamente, a juventude. O armador Angelo Peña, por exemplo, é destaque do selecionado sub-20 – uma espécie de Neymar venezuelano (guardadas as devidas proporções). A zaga não fica atrás: é toda sub-22. Mas se, em alguns clubes, esse tipo de renovação é sinônimo de animação, para “Los Bragas”, a sensação é de incerteza. Incerteza, sobretudo, pela perda do experiente Darío Figueroa e do centro-avante Rafael Castelllín, maior artilheiro da história do clube. Resumindo: a não ser que a próxima geração dos meninos da Vila esteja na Venezuela, a boa e velha altitude vai ter que fazer milagre pra classificar um time fraco em um grupo que tem times melhores.
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Universidad Católica – Chile
Estádio: San Carlos de Apoquindo
Técnico: Juan Antonio Pizzi
Destaque: Roberto Gutiérrez
A pessoa mais indicada, no Brasil, pra te dar alguma informação sobre os “Cruzados” é o torcedor do Vasco. Isso porque dois dos maiores reforços do clube são, justamente, ex-Cruz-Maltinos. E que, diga-se de passagem, não deixaram saudades em São Januário. Lembra-se de Vergara e Villanueva? Pois é, são eles mesmos. Fora isso, nada a se destacar. Apenas, talvez, o meia argentino Cañete, que seria uma boa notícia, não tivesse vindo para substituir o cerebral Botinelli, que vai ser reserva do Flamengo. Em termos de perda, porém, talvez nada se compare à do centro-avante Mirosevic, artilheiro do time em 2010, e que se transferiu para o Al Ain, dos Emirados Árabes. Como se vê, a Universidad era melhor no ano passado.
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Vélez Sarsfield – Argentina
Estádio: José Amalfitani
Técnico: Ricardo Gareca
Destaque: Maxi Morález
Tem tudo para ser o primeiro do grupo com facilidade. E, para os patriotas de plantão, é daqueles que é bom tomar cuidado. O craque é Maxi Morález, jovem de 23 anos, camisa 10 dos clássicos. Ao seu lado, compõem o meio-de-campo o veterano Zapata, bom de bola parada, e o habilidoso Augusto Fernández, que surgiu como promessa no River mas, até agora, não estourou. E se Otamendi, também conhecido como “a alegria do povo alemão”, foi vendido, sobrou o também selecionável lateral esquerdo Papa, além de Sebá Dominguéz, velho conhecido da Fiel. Já a esperança de bola na rede fica por conta do também ex-mosqueteiro Santiago “El Tanque” Silva, que terá, ao seu lado, o veterano Guille Franco, ex-Villarel e figurinha carimbada nas convoções da seleção do México. Enfim, tem um time arrumado e pode surpreender, como surpreendeu em 94. Pelo menos é o que a torcida espera.
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Unión Española – Chile
Estádio: Santa Laura
Técnico: Luis Carvallo
Destaque: Kevin Harbottle
Eliminou o Bolívar, mas isso não quer dizer grande coisa. Apesar da presença de alguns nomes como o zagueiro Espinoza (seleção do Equador) e o armador Ligüera (ex-Nacional de Montevideo), o time vem jogando um futebol pouco convincente, e provou isso na Pré-Libertadores, tanto dentro como fora de casa. Na frente, o anglo-chileno Harbottle é esperança de gols, assim como o recém-contratado Jaime, que anotou 19 tentos em 11 jogos da última temporada, quando atuava pelo Deportivo La Serena. Todavia, muito pouco para sonhar com uma boa campanha. A fragilidade da concorrência, porém, pode ajudar na briga pela segunda vaga.