Muricy precisa descansar – o São Paulo não
(Por Gabriel Lima)
Na segunda-feira passada, durante o programa Linha de Passe da ESPN Brasil, José Trajano chamou a atenção para um elemento que frequentemente esquecemos ao tratar de futebol: o elemento humano.
O tema abordado pelo jornalista era a crise são-paulina que, na quarta-feira daquela mesma semana, se aprofundaria ainda mais com a derrota tricolor para o San Lorenzo.
Devo humildemente confessar que a fala de Trajano fez eu me sentir culpado. Afinal, quem acompanha meus textos aqui no blog, sabe que sou um perseguidor assíduo de Muricy Ramalho – e não é de hoje.
Não me arrependo. Tenho minhas razões e posso relembrá-las, se necessário for.
Em primeiro lugar, o elenco que o treinador são-paulino comanda, atualmente, só perde em qualidade para o Corinthians. Claro que essa opinião, por si só, já dá um post inteiro mas, resumindo muito, não aceito a tese de que o São Paulo tenha menos time do que o Cruzeiro, o Atlético, o Fluminense ou o Inter.
O problema é que o São Paulo não joga. Aí é que Muricy entra.
Muricy está taticamente ultrapassado. Muricy abusa do chuveirinho. Muricy nunca assume seus erros. Muricy joga com dois volantes pesados. Muricy exige que Ganso faça o que ele não sabe.
Mas Muricy está doente. Sobretudo: Muricy é um ser humano.
Qualquer técnico pode se renovar, rever suas posições ou fechar seu elenco em um momento de crise. Já para quem sofre de diverticulite e tem uma pedra na vesícula, a coisa não é tão simples. Às vezes nos esquecemos de uma coisa tão óbvia e, nisso, Trajano tem razão de nos puxar a orelha.
Acontece que o São Paulo não pode parar. O São Paulo não é Rogério Ceni, nem ninguém em particular: o São Paulo é uma instituição gigante, com a terceira maior torcida do Brasil.
Não tenho a menor dúvida de que o atual treinador tricolor é um ídolo que escreveu seu nome na História do clube. O são-paulino saberá sempre reconhecer isso. Mas, até por isso, é mister impedir que essa imagem seja manchada.
Em breve, o time do Morumbi encarará o Danúbio no Uruguai. Aí, perdeu, morreu – não apenas matemática mas também psicologicamente. E, pra quem viu o jogo contra o Botafogo de Ribeirão nesse domingo, uma vitória charrua não parece nem um pouco impossível. Até porque, nesse dia de páscoa, o São Paulo não entrou em campo. Basta ver os melhores momentos para perceber que uma parte do time não anda. Ainda que não se possa acusar categoricamente o corpo-mole, tampouco se pode duvidar de algo no país em que Roger Flores admite, ao vivo, que já errou um pênalti propositalmente para demitir seu treinador.
Como se não bastasse, até as habituais coletivas de Muricy mudaram de tom. O “aqui é trabalho!” deu lugar ao “não aguento mais”. Nem poderia ser diferente: ninguém aguenta mais. Nenhum torcedor suporta ver seu time jogar um futebol medíocre, enquanto receia a cada minuto que seu treinador tenha um ataque.
Por isso, hoje, só há um remédio para Aidar: deixar o técnico entregar o cargo – coisa que ele já quer fazer há mais de duas semanas.
Muricy seguirá seu rumo e gozará de uma generosa aposentadoria no panteão dos monstros sagrados do Morumbi. Enquanto isso, o São Paulo poderá ir atrás de alguém mais atualizado que – sobretudo – consiga dar um choque nesse time modorrento em um momento urgente (Abel Braga é a melhor opção).
Porque ninguém disse que seria fácil. O Tricolor, segundo colocado no Brasileirão-2014, caiu no grupo do atual campeão da Libertadores, ao lado do atual melhor time do Brasil (nem preciso dizer que me refiro ao Corinthians).
Mas se os adversários são fortes, mais forte é a pressão. E no futebol, como em muitas outras instâncias da vida, às vezes não temos o direito de fugir.
É verdade que, além de Muricy, caberia também trocar a incompetente e irresponsável diretoria tricolor. Mas isso, além de ser assunto para outro post, está longe de ser possível agora.
Agora é preciso ser prático. É preciso que Muricy ganhe seu merecido descanso. E é preciso evitar que o São Paulo seja eliminado em um grupo liderado por seu maior rival. Antes que seja tarde.