Se liga!
Meio a tamanho turbilhão político-futebolístico, e sua conseguinte infinidade de temas, deixarei o escândalo do Ministério do Esporte para Gabriel ou Rodolfo tratarem. E, quem sabe, uma futura charge rabiscada por este que escreve. Hoje falarei sobre a Copa-14 como um todo.
Pois, nesta história de Mundial no Brasil, existe algo que, honestamente, me deixa angustiado: os argumentos que pautam as discussões ao seu respeito.
Fico agoniado quando observo pessoas debatendo sobre o palco de São Paulo na Copa e achando que o problema é o fato de ser no estádio do time A, B ou C.
É evidente que o torcedor corintiano, com o bom humor da “tiração de sarro” intrínseca ao futebol, ironizará durante toda a eternidade o seu rival são-paulino, que perdeu tanto a chance de receber uma Copa do Mundo como, também, de abri-la.
O que, diga-se, é totalmente legitimo. Faz parte do futebol.
Agora, não podemos trocar as bolas e usar uma brincadeira para discutir coisa séria.
Por isso, clubismo não faz parte desse debate.
Existem dois estádios em São Paulo que, por suas histórias, mereceriam receber uma Copa do Mundo e inaugurá-la: Pacaembu e Morumbi.
O primeiro, por ser tombado, não pode passar por mudanças arquitetônicas. A ampliação de sua capacidade (de 38 para 65 mil) seria feita com cadeiras provisórias que, segundo a Fifa, dificilmente dariam conta da abertura do evento. Ao menos, esse foi o argumento utilizado pela entidade para vetar um dos projetos do Morumbi. Já o do Pacaembu…
O segundo, por sua vez, não é “bem cultural” protegido pelo Poder Público, sairia infinitamente mais barato que o Itaquerão, e só não foi escolhido porque Juvenal Juvêncio, presidente do clube dono do estádio em questão, apoiou candidato contrário àquele que defendia Ricardo Teixeira na eleição presidencial do C-13, em abril de 2010. O mandatário corintiano, Andres Sanchez, além de inteligentíssimo, amiguíssimo de Lula, se aproveitou, se aproximou de Teixeira e viabilizará o Itaquerão com isenção fiscal de (até) R$ 420 milhões.
Isso, sim, é vergonhoso. Porque merecer estádio, o Corinthians, como qualquer outro time que não possua um, obviamente merece. Aliás, à parte toda a imundice citada acima, vejo com bons olhos uma arena multiuso em uma área da cidade tão desprivilegiada como a Zona Leste. Como bem observou o genial Xico Sá, semana passada, em sua coluna na Folha de São Paulo, abrir uma Copa do Mundo é um marco para Itaquera e a ZL.
Temos de perceber o que está rolando e é mais importante do que olhar para o nosso próprio umbigo – neste caso, para o nosso time do coração.
No Distrito Federal, tem gente querendo mudar o nome do Mané Garrincha.
Em Manaus e Cuaiabá, terras onde o futebol simplesmente inexiste, têm arena sendo construída com mais alguns milhões e, claro, verba pública sendo utilizada para isso.
Esses dias, em Natal, o Machadão começou a ser demolido para que se construa em seu lugar uma arena que custará por volta de R$ 400 milhões aos cofres públicos.
Enquanto isso, a tal Lei Geral da Copa tenta, a qualquer custo, alterar a nossa Constituição* durante o mês dos jogos. Barra a meia entrada porque o governo federal pretende ceder às tevês não possuidoras dos direitos de transmissão do Mundial 3% das partidas e 30 segundos de eventos.
Isso sem falar em isenção de impostos para Fifa, exploração de operários nas obras dos estádios e um novo Maracanã de mais de 1 bilhão que, muito provavelmente, o Brasil não jogará nele.
Vamos nos ligar nisso!
E Romário enquanto deputado federal?
Isso é tema para um próximo post…
*Nota: Além da Constituição Federal, a Lei Geral da Copa infringe leis estaduais e municipais, e os estatutos do idoso e do torcedor.