Professores da bola
Técnico de futebol é uma função engraçada: Quando vence, ninguém lembra. Quando perde, é o único culpado.
Mais engraçado ainda, é que são esses mesmos personagens os responsáveis por uma valorização astronômica no maluco mercado da bola.
Não há quem ganhe mais que o treinador. Não há, igualmente, quem seja mais cobrado.
Parece justo, não?
Sim, seria caso as proporções agregadas a essa profissão não fossem tão exageradas.
Nos últimos anos, ao contrário do que acontece com os jogadores, por aqui se paga aos técnicos tanto quanto se paga na Europa.
Figuras do cacife de Felipão, Muricy, Luxemburgo e Mano ganham fortunas por mês para dirigirem os protagonistas do espetáculo.
Quando o primeiro escalão não resolve mais, a um segundo grupo é delegado o dever de vencer sem chance de errar.
Nessa, vem a nova geração: Dorival, Adilson, Mancini, Ney Franco e, agora, o mais novo valorizado, Gilson Kleina.
Ou até mesmo a velha guarda que, embora qualificada, nunca atingiu o patamar mais alto: Joel, Roth, Tite, Renê Simões, Cuca…
Todos, de uma forma geral, recebem muito bem para serem elementos primordiais no jogo mais popular do planeta.
Mas será mesmo que são?
Existe uma enorme distorção na importância do treinador para uma equipe. É evidente sua colaboração na formação de um time, na revelação de jogadores, na vitória por conta de uma substituição acertada e, até mesmo, implantando CT e reformando gramado. Coisa que, aliás, deveria ser feita pelos dirigentes do clube (reflexo da importância exagerada dada a tal função e, claro, também da deficiência dos nossos gestores de futebol).
A questão é que o técnico não é tão importante a ponto de estar à frente do craque do time.
Na mesma proporção, não é tão imprescindível para em apenas 11 jogos conseguir ser o motivo do fracasso, como aconteceu com Adilson Batista no Santos.
Nem pode ser visto como a salvação da lavoura, como o Flu erroneamente pode vir a enxergar caso espere por Abelão. Tal como não é por isso que o preparador físico deva, sem se levar em conta o ofício de treinador, ser o substituto do tetracampeão Muricy.
Essa relação de importância tem de ser cuidadosamente medida.
É claro que os torcedores, passionais que são, terão dificuldade com isso.
Coisa normal. É folclore xingar técnico de burro.
Anormal, então, é por tais ofensas Joel deixar o Botafogo.
Mesmo assim, mais anormal ainda continua sendo o elevado grau de importância dado ao treinador.
Como no ano passado lembrou Émerson Leão, quando pelo Goiás ainda tentava fazer parte do primeiro escalão que citei acima: “Técnico não faz gol de bicicleta”.