As chuteiras abertas da América Latina: Meia Boca
Não sei se é prepotência, preconceito ou falta de informação, mesmo.
Fato é que nós, brasileiros, não entendemos muito bem como funciona o futebol em um contexto continental.
Como diria o Barão: “brasileiro pensa que Libertadores é só Boca e River”. Não é nem “time argentino”: é BOCA e RIVER.
Acontece quem se você é um desses brasileiros, deve estar estranhando alguma coisa.
Sim: tanto “Los Xeinezes” quanto “El Más Grande” não chegaram nem perto da Libertadores-2011.
Na verdade os dois clubes, hoje, vivem situações diferentes. O River, depois de quase cair para a segunda divisão (na Argentina isso é quase impossível para um “grande”), até conseguiu se ajeitar, graças à sua boa e velha maquininha de revelar jogadores.
Só que isso não aconteceu com o Boca.
Desde o dia em que Riquelme colocou uma bola na gaveta de Saja e sagrou-se campeão continental, muita coisa aconteceu. A começar pelo próprio Riquelme.
Você imagina, por exemplo, Ronaldo devolvendo ao Corinthians o salário que recebeu pelos meses em que esteve contundido?
Pois foi isso que o eterno camisa 10 do Boda Juniors fez.
Um ato de hombridade, sem dúvida. Mas não deixa de ilustrar a decadência de um jogador que, 3 anos atrás, estava entre os melhores do mundo e, agora, mal consegue estar em campo.
E esse não foi um problema exclusivo de Riquelme. Todo o time do Boca envelheceu.
Battaglia está em vias de se aposentar, Ibarra já se aposentou e Palermo já vai com 37 anos – dois a menos do que Rivaldo.
Só que até aí, tudo bem. Nada mais natural. O problema é que as jovens promessas do time campeão de 2007 foram todas embora.
O ótimo Palacio foi para o Genoa. Krupoviesa, foi pra o Olympique de Marseille. Dátolo, para o Napoli. Silvestre, pro Catania. Banega, pro Valencia.
E assim aquele time se esfaleçou.
E quer saber onde o Boca gastou toda a grana que ganhou com essa gente? Isso mesmo: em lugar nenhum.
As dificuldades que os clubes argentinos têm em se administrar, somadas à saída de Mauríco Macri da presidência “xeineze”, acabaram com o clube.
Pra piorar, jovens que deveriam ter estourado, como o atacante Mouche, não conseguem ter regularidade.
E ainda teve a cereja do bolo: a contratação do técnico Julio Falcioni, o Felipão hermano.
Foi ele o responsável por montar um dos esquemas táticos mais defensivos da história de La Bombonera, o que inclui um meio-de-campo com quatro volantes.
Resumo da ópera (ou do Tango): o Boca Juniors, terror dos brasileiros por anos, ocupa, hoje, a 16ª posição do torneio clausura.
Por isso, se você é um daqueles caras que pensa que “Libertadores é só Boca e River”, é melhor começar a se preocupar com Vélez Sarsfield, Estudiantes ou San Lorenzo.
Atualmente, o bicho-papão tá mais pra meia-boca.
* Todo Sábado, Gabriel dos Santos Lima publica, neste mesmo espaço, a coluna “As chuteiras abertas da América Latina”, onde fala sobre o futebol do continente.