Cheiro de Copa
A primeira Copa do Mundo que tenho lembrança é a de 1998. São memórias desconexas e de alguns acontecimentos, apenas. Portanto, a minha primeira Copa, realmente, foi em 2002. Daquela, sim, me recordo como se fosse ontem. Acordava de madrugada para assistir aos jogos sempre ao lado do meu pai, que normalmente já havia despertado para ir trabalhar.
As imagens vivem na minha cabeça. Essa Copa deixou um cheiro peculiar. Conforme o Brasil avançava, as ruas eram decoradas. Na final, amarrei uma bandeira no pescoço e até em super-herói me transormei. Não queria perder um momento daquele duelo contra a Alemanha. Lembro que logo após a partida sai na rua e vi pessoas comemorando. Vários focos de churrasco. Uma festa como nunca tinha visto.
Em 2006, o cheiro se repetiu cedo demais. A euforia tomava conta do País antes mesmo da sSleção entrar em campo. Ruas pintadas, churrascos em todos os jogos. A festa, precipitada, se dava por conta do quarteto mágico. Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e Adriano, eram considerados imbatíveis. Não foram.
No Mundial da África do Sul, o cheiro se transformou em desconfiança. Só sentia-se o aroma em poucos lugares. A equipe treinada por Dunga não empolgava. Poucos acreditavam no Brasil. Estavam certos. Antes de tudo acabar, eu fiz minha festa, reuni os amigos e assistimos ao jogo do Brasil contra a Costa do Marfim, que teve golaço de Luís Fabiano.
Ano passado, com a Copa das Confederações em território nacional, imaginei que sentiria um cheiro semelhante ao do Mundial de 2002. Mas Não. O cheiro era de pimenta e pólvora. Os estouros não eram de fogos, mas, sim, de bombas de efeito moral. Os gritos não eram pelo Brasil do futebol, mas pelo Brasil desamparado. Pela passagem cara em um transporte sem qualidade. Mesmo com o Brasil voltando a convencer, principalmente após conseguir o título sobre a atual campeã mundial Espanha, no novo Maracanã, o cheiro de Copa não existia, talvez exceto pela decisão.
Agora, o grande momento chegou: a Copa do Mundo em nosso País. O cheiro ainda é de pimenta, pólvora e gás de pimenta. Porém, começo, aos poucos, a sentir o cheiro de Copa. Aquele de 2002. O cheiro de tinta verde e amarela. Começo a ver ruas decoradas, ainda que com timidez. E assim que precisa ser: com protestos, mas com cheiro e jeito de Copa, também.