Qual Dorival Júnior o São Paulo contratou?
Primeiramente eu gostaria de deixar claro que acompanhei o Dorival como poucos ao longo dos últimos dois anos e meio, pelo simples fato de eu acompanhar mais o Santos do que qualquer outro time no Brasil e no mundo. Portanto, embora sempre tenhamos que levar em consideração o aprendizado diário de qualquer profissional, eu sei bem quais são os acertos e erros que Dorival Júnior pode cometer à frente do tricolor paulistano.
Começando pelo lado positivo, tenham certeza de uma coisa: acabou aquela rotação de jogadores do Rogério. A característica do novo treinador é outra, ele gosta de definir um time titular e ir trocando aos poucos. Conforme os titulares não rendam e os reservas peçam passagem as mudanças vão acontecendo mais naturalmente, ainda mais contando que o São Paulo terá muitas semanas livres para trabalhar até o fim do ano, já que disputa apenas a Série A.
Em 2015, quando assumiu um Santos completamente destruído tática e mentalmente nas mãos daquele que é hoje auxiliar Marcelo Fernandes, Dorival fez o simples: deu oportunidades para jogadores jovens que normalmente não vinham jogando (como Zeca que estava de passagem comprada para os EUA e Thiago Maia que esquentava o banco do Lucas Otávio, um primeiro volante de um metro e meio) e colocou todos os jogadores em suas posições de origem. Procurou inventar o mínimo possível.
Não bastasse isso, ele deu padrão ao time. Seu primeiro serviço foi arrumar o sistema defensivo. Jogadores de frente que até então pouco defendiam tiveram suas cabeças mudadas por Dorival. Gabigol e Geuvânio são provas disso. Como o tempo era curto e o time disputava duas competições à época, o estilo de jogo adotado de início não tinha muitos requintes. Basicamente era se defender bem e compactamente explorando a velocidade dos moleques para contragolpear.
A filosofia deu tão certo que o Santos deixou a zona de rebaixamento para brigar até a última rodada por uma vaga na Libertadores. Tudo isso disputando a Copa do Brasil até o fim, não a vencendo por detalhes, ou por um detalhe mais palpável chamado Nilson.
Em 2016, mesmo perdendo jogadores que eram pilares em seu esquema no início do ano, como Geuvânio e Marquinhos Gabriel, o Santos foi irretocável na campanha vencedora do Campeonato Paulista e já mostrava muito mais repertório do que apenas contragolpes. Venceu com méritos a competição estadual e acenava ali como um dos principais candidatos ao título do Brasileiro. Só que graves lesões de jogadores-chave no esquema de Dorival, atrelado às perdas constantes dos principais nomes do time para a Copa América Centenário e para os Jogos Olímpicos Rio-16 fizeram o Santos jamais ameaçar o Palmeiras de fato na briga pelo título. Não podemos nos esquecer da venda de Gabigol, que era o jogador mais decisivo do time.
Ainda assim, a campanha foi elogiável. Alguns podem argumentar que o Santos não jogou como deveria contra times que estavam na zona de rebaixamento, mas o aproveitamento do time com base em seu próprio poder de fogo foi muito satisfatório, tanto que votei no Dorival como o melhor técnico do Campeonato Brasileiro de 2016.
2017 começa completamente diferente, já que o elenco santista não sofreu nenhuma baixa para o mercado, justamente aquilo que o treinador mais pedia. Não bastasse isso, o clube foi às compras trazendo peças escolhidas a dedo por ele próprio, como Bruno Henrique, Cléber, Leandro Donizete, Matheus Ribeiro e Kayke. Aquele papo de que o Santos não tinha elenco começava a cair por terra.
No entanto, o ano em vigência traria consigo uma peculiaridade: era ano eleitoral do clube. E isso significa uma pressão absurda da oposição e do próprio presidente que atrela os resultados a uma possível reeleição. Não bastasse isso, o homem de confiança dos jogadores fora demitido pelo presidente do clube e as premiações oriundas de 2016 estavam atrasadas. E por último e não menos importante, a torcida estava muito mais exigente já que esperava muito mais do time para esse ano. Dorival jamais conseguiu controlar crise interna.
Sua passividade em 2017 o deixou irreconhecível. Suas entrevistas pós-revezes eram simplesmente deprimentes. Sua atitude dentro do campo em procurar soluções para os problemas criados era quase nula, algo completamente contrário ao que o próprio apresentou ao longo dos primeiros dois anos de trabalho. O que me deixou com uma pulga atrás da orelha: será que o Dorival Júnior é o nome certo em tempos nublados?
Esqueçam aquela máxima por ele mesmo apresentada de que se o reserva estiver pedindo passagem ele ganha a posição, agora não acontecia mais nada. Em certo ponto, com quase 3x menos minutos em campo, Kayke tinha mais gols e assistências que Ricardo Oliveira. Nada aconteceu enquanto Dorival esteve à frente do clube. Vitor Bueno então, coitado. Até a mãe dele, se bobear, sabia que ele precisava dar uma sentadinha no banco. Mas também nada acontecia.
O relacionamento Dorival/Santos foi estremecendo a cada resultado negativo e o mais triste é que as escolhas corretas sempre estiveram na cara do treinador, que optou por colocar uma venda nos olhos e assim destruir tudo o que ele mesmo construiu brilhantemente ao longo de dois anos. Mas agora começa tudo outra vez, com mais um grande time em crise fadado à mediocridade.
A pergunta é: qual Dorival o São Paulo contratou; o de 2015 ou o de 2017?
Só o tempo dirá…