Torço contra porque torço a favor
Não, eu não escondo a minha felicidade ao ver a cara frustrada do Dunga. Também não escondo a minha satisfação ao ver o chute de Murillo ultrapassar linha definitiva e ir ao encontro das redes de Jefferson.
Se você, leitor, já está se preparando para me chamar de anti, saiba que o anti aqui é você!
A sensação que tive ontem ao ver o gol da Colômbia foi parecida àquela do fatídico 7 a 1. A partir do quarto tento, era só alegria. Quanto mais a bola entrasse, melhor.
Mas bastou menos de um mês após a mais humilhante derrota do futebol nacional para observarmos que não foi o suficiente. Eles precisam de mais. Precisam de uma eliminação vexatória na Copa América. Se não der certo, porque não verem o Brasil fora pela primeira vez de uma Copa? Se for preciso, não hesitarei em comemorar também essa tragédia.
Dentro dos meus preceitos, a seleção brasileira é apenas a ponta do iceberg. Ela nada mais é do que o reflexo do que se tornou o futebol de um país. Mas ao mesmo tempo, ela tem de servir de exemplo, já que é a nossa marca mais conhecida no mundo. E tudo isso começa com seus dirigentes.
Ver jogadores como Firmino, Fred, Felipe Luis, Fernandinho e Elias como titulares da seleção é algo que passa pela escolha técnica, que, com Dunga no comando, é no mínimo questionável. Mas por outro lado, a safra é tão pobre que mesmo o melhor treinador do mundo não conseguiria fazer algo tão diferente. Estou falando da escalação!
O futebol brasileiro precisa de uma reestruturação abrupta, corajosa e enérgica.
E tudo isso começa com uma mudança e adequação do calendário do futebol nacional. E, embora também seja importante, eu deixo os grandes clubes fora do primeiro passo.
Grande parte dos nossos maiores jogadores foram revelados nas bases de clubes pequenos. E neste modelo atual, os pequenos não têm vez. Os clubes que não se classificaram para a Série D tiveram que fechar as suas portas até os Estaduais do ano que vem. Mais de 12 mil atletas profissionais estão desempregados. Com um calendário diferente, que permita com que estes clubes atuem por todo o ano, será que naturalmente o investimento dos mesmos em suas bases não aumentariam consideravelmente?
O segundo passo do calendário é a inclusão dos chamados grandes ao processo. Pontos como a diminuição de jogos, espaço para as datas Fifa e realocação de Estaduais são muito importantes. Mas a principal questão envolve a janela de transferências. Já passou da hora das nossa janela ser adequada à européia. Só assim os clubes brasileiros conseguirão seguir à risca os seus respectivos planejamentos ao longo do ano.
Outro passo importante dessa reestruturação passa pela aprovação da Medida Provisória do Profut. A adesão dos clubes devedores se tornará quase obrigatória e, com isso, eles terão de se submeter a uma série de contrapartidas que jamais foram vistas. Com elas, será impossível um clube gastar mais do que se arrecada sem severas punições.
Com um calendário mais espaçado e justo, com os clubes grandes jogando menos e os pequenos jogando mais e com as janelas alocadas, o crescimento do futebol que mais produziu craques na história será iminente. O reflexo, mesmo com Dungas no comando, será visto nas escalações da Seleção.
Porém, como eu falei no início do texto, a seleção brasileira não serve apenas de reflexo, mas também de exemplo. E é aí que entram as minhas secadas e comemorações aos desastres.
Quando a Copa acabou para o Brasil, havia duas medidas a serem tomadas: promover essas tais mudanças estruturais ou empurrar com a barriga. E, com Marin e Del Nero no poder, é claro que seria a segunda opção.
Nas mãos, eles tinham o poder de escolher o treinador do próximo ciclo. E ao invés de entregar a responsa a alguém com uma mínima capacidade de fazer o barco ir mudando o rumo aos poucos, eles resolveram ressuscitar o frustado agente de atletas Gilmar Rinaldi, que, em agradecimento, ressuscitou Dunga.
O que se esperava de Dunga era o puro e simples pragmatismo de sempre. Aquele futebol que jamais será vistoso, mas que os resultados, pelo menos nos jogos subsequentes à Copa, viriam. E eles vieram. Foram vitórias contra as seleções da Argentina, da França, entre outras. Aos poucos, a seleção de Dunga ia enganando e conquistando a simpatia daqueles que pensam que só o resultado é importante.
Neste cenário, o que me restava? Se eu criticava o treinador, o opositor certamente argumentava que os resultados estavam aí. Pois é, só me restou fazer as vezes de anti. E torço contra mesmo, sem dó nem piedade. Afinal, sem os resultados, o que sobra de Dunga? Ah sim, sobram entrevistas divertidíssimas, nas quais ele aponta Deus, o mundo e os juízes como culpados diretos por suas derrotas, nunca, jamais, ele mesmo.
Foram dois jogos oficiais desde a volta do técnico, se é que podemos o chamar assim, ao comando da seleção. No primeiro, diante do Peru, que tem o time mais decadente do continente, apenas uma magra vitória conquistada aos 47 do segundo tempo. No segundo, a iminente derrota.
Agora, no seu esquema predileto 4-2-3-toca a bola no Neymar, o treinador terá de contar com a ausência em pelo menos dois jogos de seu único salvador. Que perca para a Venezuela da maneira mais vexatória possível. E se ainda assim se classificar, que pegue a Argentina e tome outro 7 a 1.
Se ainda assim não for o suficiente, prometo que volto aqui e continuo essa ladainha.