Gol da presidência
O carnaval mal acabou e Dilma já fez tudo errado. Colocou uma ruralista no Ministério da Agricultura, um banqueiro no Ministério da Fazenda, um destrator de professores no Ministério da Educação… Em suma: tudo o que Aécio Neves faria em seu lugar, se pudesse.
No esporte, não foi diferente. Nem poderia ser. Loteada desde o governo Lula, a pasta foi impiedosamente repassada ao PRB. Ficamos, assim, com George Hilton, que já assumiu não entender nada de futebol e promete organizar as olimpíadas de 2016 à la Aldo Rebelo.
Não tenho dúvidas que os próximos capítulos dessa novela serão perigosos. No entanto, é preciso ser justo: a presidência marcou um golaço nessa terça-feira.
Impedindo o Legislativo de votar a Lei de Responsabilidade Fiscal para o esporte em caráter provisório, o Executivo evitou a abertura de um precedente que poderia representar um futuro tenebroso para nosso futebol.
Como ainda não discutimos a questão suficientemente aqui pelo blog, ficam aqui alguns esclarecimentos:
Uma lei de responsabilidade é mais do que necessária, justamente para evitar o buraco em que nossas equipes vêm se enfiando há décadas. Afinal, não é de hoje que presidentes como o ex-mandatário do Flamengo Edmundo dos Santos Silva torram suas reservas em craques milionários e entregam o clube quebrado para o sucessor.
Esse, na verdade, sempre foi o modus operandi de nossos cartolas: ganhar títulos, se consagrar e quem vem depois que se vire pra pagar a conta.
É por isso, inclusive, que nomes como Eduardo Bandeira de Mello são tão importantes. Mais importante ainda é a compreensão da torcida do Flamengo que, sanando suas finanças, pode aproveitar sua popularidade para faturar estratosfericamente nos próximos anos e voltar a ser um dos maiores do Brasil em breve.
Acontece que, infelizmente, nem todos pensam como o atual presidente rubro-negro: Carlos Miguel Aidar, do São Paulo, está aí pra provar.
Por isso é tão importante ter uma lei que obrigue os clubes a pagar suas dívidas em dia, de preferência com juros. É melhor ter elencos mais modestos e jogadores que recebam em dia do que ver Seedorf (um atleta do Botafogo) pagando os atletas do Botafogo (!) com dinheiro do seu próprio bolso. Tanto isso é verdade que os próprios jogadores já se mobilizam via-Bom Senso F. C. para receber menos (!!) mais receber em dia (!!!).
A solução dessa questão passa toda por uma lei que empurre nossas agremiações em direção ao Fair Play financeiro. Os alemães perceberam isso literalmente no século passado (e por iniciativa de seus próprios cartolas). Acontece que, enquanto ainda nos curamos dos 7×1 aplicados em campo, a malandragem corre solta em Brasília.
A chamada bancada da bola vem atuando, desde o ano passado, para manusear o texto dessa lei de forma a abolir os juros das dívidas, quando não perdoar totalmente o que os clubes devem. E se você pensa que isso vai ser bom para nosso futebol, lembremos que a Procuradoria Geral da Fazenda estima a dívida total de nossas equipes em mais de 1 bilhão e meio de reais. Isso mesmo: dinheiro do Estado, saído do seu bolso, que poderia ser aplicado em educação, saúde, transporte e moradia, mas foi emprestado a gente como Alberto Dualib e agora corre o risco de simplesmente não voltar.
Isso pra não falar na carta branca que a bancada da bola quer dar aos clubes para continuarem contratando irresponsavelmente, fazendo com que o melhor time do Brasil seja não o melhor administrado, mas o menos responsável para com suas próprias finanças.
E que fique claro: aqui, quando falamos em bancada da bola, damos nomes aos bois. Estamos nos referindo a Jovair Arantes (PTB/GO), Vicente Cândido (PT/SP), Valdivino Oliveira (PSDB/GO), Guilherme Campos (PSD/SP), José Rocha (PR/BA), Sarney Filho (PV/MA), Arnaldo Faria de Sá (PTB/SP).
Se a sociedade não se organizar para cobrar esses senhores, é bem possível que nos mantenhamos no mesmo rumo que nos levou ao vexame na Copa de 2014.
Porque é bem verdade que Dilma desarmou o ataque do Legislativo. Da mesma forma é bem possível que o gol no contra-golpe venha nessa semana, com a promessa da Casa Civil de votar uma Lei de Responsabilidade digna de respeito.
No entanto, se não estivermos atentos às próximas jogadas dessa importante partida, corremos o risco de seguir choramingando a disparidade de nossos clubes em relação ao Bayern de Munique sem, de fato, resolver a desigualdade estrutural que nos separa da Europa.
Por isso nós, do Futeboteco, seguimos de olho!