O dilema de Modesto Roma
O que mais me preocupou quando Modesto Roma Júnior venceu as eleições para presidir o Santos foi a sua campanha defendendo que o clube pertencia à cidade de Santos.
Não que não deva ser assim, mas o discurso me parecia uma maneira de conseguir votos daqueles santistas que vivem na cidade, já que os outros candidatos prometiam uma rotatividade maior em relação aos mandos de campo do time.
E foi assim que ocorreu: no pleito organizado em São Paulo, Modesto foi disparadamente o pior votado, com apenas 37 votos em um pouco mais de mil. Quem, de fato, o elegeu foi o torcedor residente em Santos.
Sabedor disso, era mais do que claro que Modesto não afastaria o Santos da Vila, ou daqueles que o elegeram. O que o mandatário não esperava, no entanto, era encontrar no clube uma situação financeira tão precária.
Mesmo sem um patrocinador máster e com suas receitas de TV referentes a este ano já esgotadas pela última gestão, o presidente santista adotou um discurso de que o Santos precisava andar com as suas próprias pernas, rejeitando a possibilidade de recorrer à fortuna do ex-presidente Marcelo Teixeira.
Poucas horas após o discurso de Modesto, o site “Espn.com.br” divulgou que Teixeira acabara de fazer um empréstimo ao Santos. A quantia seria paga com receitas referentes ao pay-per-view.
Foi a primeira contradição do atual presidente!
O fato é que, embora Roma tenha baixado razoavelmente a folha salarial do clube em relação ao ano passado, a situação financeira do Santos ainda é muito crítica.
Com todas essas receitas comprometidas, como andar com as próprias pernas e manter os salários em dia até pelo menos o fim deste ano? Talvez uma segunda contradição do presidente seja necessária.
Modesto, em momento algum, disse que não usaria o estádio do Pacaembu, mas era claro em seu discurso que ele planejava manter o Santos muito mais em Santos do que em São Paulo. Mas como não é novidade para ninguém, a grande maioria de torcedores santistas está localizada fora da cidade litorânea.
Por isso, uma boa e simples alternativa para buscar melhores receitas em bilheteria é aumentando o número de jogos que o time fará fora de Santos, principalmente no abandonado Pacaembu.
No último domingo, 22, mesmo sem os direitos do tobogã (setor mais barato do Pacaembu), o público pagante foi de mais de 12 mil pessoas. A renda, destinada à mandante Portuguesa, foi de pouco mais de R$ 400 mil, quase o dobro do que os jogos na Vila Belmiro costumam render.
Diante da Linense, no próximo domingo, 1, o Santos novamente jogará no estádio Paulo Machado de Carvalho. Desta vez, porém, será o mandante. E daqui a algumas semanas, mais um jogo, diante do Audax, já está agendado para a capital paulista.
Resta saber qual será a prioridade de Modesto Roma Júnior até o fim do ano: honrar aqueles que o elegeram, ou tentar contornar a situação financeira do Santos.