Um acerto
Dunga está certo. Só quanto à convocação, que fique bem claro.
E já que elogios ao capitão do Tetra não são habituais na minha coluna, farei antes as devidas ressalvas:
Quem me conhece minimamente, sabe que eu odeio Dunga. Aliás, o odeio não apenas como técnico. O odeio como pessoa. Talvez haja apenas uma coisa no mundo inteiro que consegue ser mais desprezível do que uma coletiva de imprensa da CBF: a propaganda eleitoral do PSDB.
Na prática, as entrevistas do atual comandante (ou deveria dizer “sargento”?) da nossa seleção são apenas um apanhado de chavões óbvios e frases protocolares que nada acrescentam. Tudo isso somado a uma cordialidade pra lá de fingida, que mal esconde as boas e velhas patadas sem as quais Dunga não é capaz de proferir uma frase.
Ademais, acho desnecessário dizer que qualquer um dos nomes ventilados (Tite, Cuca, Sampaoli) é mais indicado para conduzir a tão clamada “renovação do futebol brasileiro”. Isso pra nem entrar nos méritos da relação seleção-torcida, ou do mal psicológico que Dunga fará a nossos jogadores em longo prazo.
Dito isso, acho importante não confundir as coisas. Quero que Dunga seja perseguido por seus inúmeros erros. E não sejamos injustos: quando se trata de montar um time, o cara não é esse fracasso que muitos pintam. A última convocação do Brasil foi prova disso.
Afinal, aqui tudo depende da caracterização que se faz dos 7×1. Na minha opinião, sim: em relação à Alemanha, o Brasil tinha menos time, menos treinador e menos esquema tático. Isso explica uma derrota, uma eliminação. Mas não explica a tragédia que foram aqueles fatídicos noventa minutos. Pra entender esse episódio digno de uma peça de Sófocles, devemos remontar aos domínios do emocional, do psicológico, do fantasma de 50 e tudo o mais.
Resumindo: os jogadores têm culpa, sim. Mas não a ponto de fazer da seleção uma terra arrasada e começar tudo do zero. Nossos atletas ainda jogam em times de ponta, ainda valem fortunas e não estão abaixo da média das grandes seleções. Ademais, grande parte do time de Felipão era muito jovem. Faço o desafio: alguém em sã consciência jogaria fora Oscar, David Luiz, Fernandinho e William?
Sim, Dunga está certo em tentar salvar o que o time da Copa ainda tem de bom. E mais: também está certo em chamar nomes como Maicon e Hulk. Se a equipe de 2018 está sendo aprontada, seus atuais integrantes não podem se sentir em uma seleção sub-23. A palavra da moda infelizmente vale, aqui: é preciso uma “transição”.
E só pra fazer o último elogio: Dunga corrigiu muitos defeitos de Felipão. Afinal, criticar o desempenho do Brasil na Copa já virou mais do que senso comum; mas a verdade é que as críticas não foram tão duras quando a lista do bigodudo saiu. Foram poucos os que ousaram pôr a mão no fogo pra dizer que faltava experiência, que faltava um Robinho. Pouquíssimos apontaram a palhaçada que era preterir Miranda e convocar Henrique. Quase nada se falou sobre Philipe Coutinho, melhor brasileiro do ano na Premier League. Quase nada se falou sobre Felipe Luís ser melhor do que Maxwell.
E Dunga corrigiu bem esses erros. De quebra, acertou ao apostar em Elias, Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart – este último, o melhor do Brasileirão até agora.
Por isso, não confundamos as coisas. Não façamos coro aos arautos do apocalypse que proclamam o fim do futebol brasileiro. Ainda estamos vivos. E se uma reformulação é urgente, não vamos jogar fora o que temos de bom só pra ter o prazer de apagar o passado. Vamos nos livrar – isso sim – do que o passado tem de ruim (Dunga, por exemplo).