Um Arsenal de emoções
Ao chegar para a reunião do Futeboteco, no fim de tarde do último sábado (17), notei que havia me esquecido da final da Copa da Inglaterra, na qual um dos finalistas, o Arsenal (sim, ele mesmo, o meu querido Arsenal!), teria novamente a chance de encerrar um incômodo jejum de títulos. Desta vez, diante do modesto e, teoricamente, fraco Hull City. Era muito fácil para ser verdade.
Quando o amigo Diego chegou ao bar, antes de dar o primeiro gole na cerveja, perguntei sobre a partida e sua resposta foi direta: “quando vi, estava perdendo de um a zero”, disse o popular Barão. Apenas lamentei. Afinal, o Arsenal adora perder de forma vexatória para times menores, ainda mais em decisões.
Enquanto falávamos sobre o título histórico do Atlético de Madrid, conquistado também no mesmo dia, enviei uma mensagem para uma amiga “torcedora do Arsenal”, querendo saber o que tinha rolado em Wembley.
Ela estava em um pub, na região central de São Paulo, junto com uma galera de todos os cantos do Brasil que possui algo em comum: a paixão pelas cores vermelha e branca do time de Londres.
Esperávamos os outros futebotequeiros, Gabriel e Rodolfo, quando recebi uma mensagem de Thais: “vencemos no sufoco. 3 a 2. Gol do Ramsey”.
Comentei na mesa. “Olha aí, o Arsenal foi campeão”.
A reação de ambos foi de certa surpresa. Diego perguntou quem havia marcado o gol salvador. Respondi: “o garoto Ramsey”. Gabriel elogiou muito o moleque, que tem história fantástica desde que chegou à capital inglesa, onde atravessou momentos dramáticos, bons e ruins, como uma lesão em 2008 e a conquista nesta temporada.
Durante o encontro, falamos sobre tudo. Decisões do site, publicações, Copa do Mundo. Mas o título dos Gunners ficou na minha cabeça. Estava tranquilo, não sou um fanático, longe disso. Apenas acompanho, acho bacana a história do Arsenal. Tenho simpatia.
Cheguei em casa e mal consegui tomar um banho, pois precisava sair de novo. Queria ver os lances, a festa. Não deu.
Apenas ontem, no domingo canadense de chuva de granizo, que provocou um inverno à brasileira, vi os melhores momentos e acompanhei a repercussão do título, conseguido com bastante sofrimento.
O último sucesso dos londrinos havia acontecido em 2005, também pela Fa Cup, após vitória sobre o Manchester United por 5 a 4 nos pênaltis.
O jornal Sunday Times, em tom de ironia, publicou a seguinte manchete: “Depois de 8 anos, 11 meses, 26 dias, 38 minutos e 20 segundos, Arsenal vence um troféu”.
O que mais me surpreendeu assistindo ao VT da partida foi a maneira como se desenhou a vitória. O relógio marcava 10 minutos do primeiro tempo e o placar já apontava 2 a 0 Hull. Cenário caótico. Velho problemas. Cogitavam até a demissão de Wenger. O empate, de forma sofrida, veio na metade do segundo tempo, com Koscielny. No lance, o zagueiro quase se lesionou.
Aliás, a palavra lesão tem prejudicado o Arsenal nos últimos anos, sempre marcados por diversos fracassos, dentro e fora de campo. Fracassos que também têm manchado a bela história de Arsène Wenger – no clube desde 1996 -, principalmente após José Mourinho declarar que o treinador francês não passava de um “especialista em falhas”. Wenger conquistou sua 5° taça de Copa. Ao todo, são 13 títulos em 18 anos de casa.
O treinador francês tem personalidade. Tem o Arsenal no nome. É um cara fiel às suas filosofias e modos de pensar futebol. Foi um dos que revolucionou a maneira de jogo em solos britânicos; extirpou a bola aérea visando a perfeição, o toque refinado, a beleza. Não é um fracassado. É vencedor. Diferenciado.
Um vencedor que ganhou fama de pão duro nos últimos anos por acreditar, além do limite, que somente jovens seriam capazes de resolver os problemas de sua equipe. A maioria deles, desconhecidos, chegavam a Londres, desenvolviam-se como jogadores e logo saiam para brilhar com outras cores e levantar taças.
Com a renovação encaminhada, Wenger, agora sem pressão, tem a missão de resgatar a confiança da torcida e, sobretudo, dos atletas. Reforçar o elenco com mais jogadores do nível de Özil pode ser um caminho.
A fila, que parecia sem fim, se foi. Salvou a péssima e oscilante temporada. A esperança agora é de um futuro promissor, voos maiores, com equipes mais consistentes, que honrem a história deste gigante do futebol inglês e aumentem seu Arsenal de troféus.