Xô, profexô!
A melhor notícia que saiu da rua Turiassu nesta semana foi a desistência do presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, de contratar o técnico Vanderlei Luxemburgo. Afinal, trazê-lo seria um erro maior que demitir Gilson Kleina, como se a culpa pelos fracassos da equipe, claramente limitada, fosse apenas do ex-comandante.
Para começar a explicar, reproduzo uma declaração de Mano Menezes em entrevista que é capa do caderno de Esportes da Folha de São Paulo de hoje. Ao ser perguntado se acreditava que um eventual título da Copa América em 2011 ou da Olimpíada em 2012 garantiriam a presença dele no comando da seleção brasileira na Copa do Mundo, neste ano, o antecessor de Luiz Felipe Scolari e atual técnico do Corinthians se esquivou, mas fez importante observação:
“São preferências dos dirigentes. Eu respeito. Há ligação direta com segurança em colocar Felipão e Parreira, os dois últimos campeões do mundo. Isso exime [os dirigentes] de muita coisa.“
É verdade.
Além de tirar quase toda a responsabilidade do colo da CBF, a troca de Mano por Felipão significava, na época, escolher o único cara com nível de aceitação suficiente para suportar a pressão de treinar o Brasil numa Copa do Mundo em território nacional.
Significava optar por um técnico carismático, comandante do último título mundial do País e que, ainda por cima, é conhecido pelos sucessos em torneios de mata-mata, fórmula em que é disputada a fase decisiva do Mundial. Nada tinha a ver com o projeto inicial, acertado, de renovar o time canarinho e pensar no futuro dele.
Pouco importava que o “Bigode” há muito não realizava bons trabalhos. Pouco importava que, apesar de vir de um título de Copa do Brasil com o Palmeiras (um torneio de tiro curto, no qual nem sempre o melhor vence, e foi o caso dessa edição), ele fosse o responsável pela montagem duma equipe que, meses depois, sem sua tutela, seria rebaixada pela segunda vez.
Encabeçado pelo diretor executivo José Carlos Brunoro, o recente interesse da (dividida) cúpula alviverde em contratar Luxemburgo pela quinta vez estava dentro de uma situação semelhante, guardadas as devidas proporções. Num mercado com poucas opções, Luxa, mesmo sem carisma, tem mais moral que os demais concorrentes e ainda vive da sua “imagem de campeão”, prato cheio para iludir boa parte de uma torcida carente e nostálgica. Sua vinda aliviaria o embate entre organizada e diretoria.
Porém, não é o sucesso de Scolari na volta à seleção que deve legitimar a volta de Luxemburgo ao Palmeiras, por qualquer que seja o preço. O Verdão precisa pensar no futuro, como o selecionado nacional também precisa e o projeto foi abandonado pelo troféu do Mundial a qualquer custo.
Por isso, ainda que influenciado por Mustafá Contursi, fantasma que atrapalha demais a atual gestão palestrina, o presidente Paulo Nobre acerta em cheio ao negar o mais cômodo, que seria escolher o treinador preferido pela torcida, mas que está longe de ser o que o clube precisa, e optar por pensar a longo prazo, sem se precipitar.
É corajoso por parte da diretoria, principalmente no ano do centenário (espero que não seja por falta de lucidez).
O mesmo vale para a exemplar política de contratações por produtividade, que, como tudo que é bom, tem suas dificuldades – ainda mais num time grande que, em meio à necessidade de sanar dívidas altas, precisa de craques, ídolos e títulos.
O mais fácil, neste 2014 de festa, era gastar o que não tem, contratar a rodo e dar à torcida o que ela quer. Seria, no entanto, uma irresponsabilidade absurda.
Atualmente, Vanderlei Luxemburgo é um bombeiro que não consegue apagar incêndios. Está em declínio e não possui trabalhos recentes para justificar sua contratação. E o Palmeiras, sobretudo, não pode viver do passado. Precisa de uma mentalidade nova. Precisa de visões e sangues novos.
De fato, por aqui não há muitas alternativas para o cargo e, ao mesmo tempo, é bom que seja alguém que aguente a corneta da “turma do amendoim”. Buscar um profissional de fora, como os argentinos Jorge Sampaoli e Ricardo Gareca, parece a melhor cartada e um dinheiro melhor investido (os técnicos no resto da América do Sul recebem bem menos do que no Brasil).
Trata-se de dois treinadores ousados, progressistas e que podem, inclusive, acrescentar bastante ao nosso futebol. E, para o Palmeiras, o principal: deixar o legado do qual o clube tanto precisa. Aliás, Sampaoli, que faz belíssimo trabalho na seleção chilena, manifestou seu desejo de dirigir uma equipe brasileira em 2012, quando treinava a La U.
É claro que é difícil segurar a grana e deixar de trazer estrelas justamente agora, quando mais se queria elas. É claro que é doloroso perder o principal jogador pro rival, numa negociação tão mal conduzida – falha que Nobre já havia cometido na troca de Barcos com o Grêmio, no início do mandato, em 2013.
E, por isso, o ideal é que se encontre um limiar para que o Verdão não estoure as contas, mas, também, não volte pra Segundona, algo que seria ainda mais trágico. Como bem colocou Gabriel Lima em seu post sobre a demissão de Gilson Kleina, “Nobre precisa perceber que este não é qualquer ano”.
Mas é igualmente importante que a torcida tire paciência de onde não há e perceba que melhor do que conseguir uma taça no centenário, é garantir uma sequência de anos com várias delas.