Boteco da Champions: defender também é uma arte
É, amigos, estive sem escrever durante um tempo por conta dos trabalhos da faculdade, que encaminha-se para a reta derradeira, mas cá estou eu, analisando mais um jogo do Velho Continente, no meu, no nosso “Boteco da Champions”. Lugar onde o papo é reto e regado a sucos de cevada e boa opinião, claro.
Os primeiros jogos das semifinais da Champions League se foram e deixaram uma lição àqueles que esperavam duelos mais disputados, com emoção até o fim, evidenciando uma máxima antiga, porém ainda contestada: defender também é uma arte? Oras, e por que não seria? Há quem condene, mas entendo que evitar aquilo que é o objetivo principal deste esporte magnífico com qualidade tem, obviamente, o seu valor. Sendo assim, merece respeito.
Ao longo da história, inúmeras equipes conquistaram títulos atuando de maneira defensiva. Alguns exemplos? O Brasil de 94. O Corinthians de 2012. O São Paulo de 2006 a 2008. Enfim, são vários, que poderiam ganhar até um texto somente deles.
O empate sem gols entre Atlético de Madrid e Chelsea me passou a impressão que o sempre imprevísivel José Mourinho está totalmente imbuído na conquista de seu terceiro torneio europeu. A começar pela leve derrocada dos Blues no Campeonato Inglês, em que o Liverpool abriu ligeira vantagem, possuindo todos os predicados para ser, depois de muito tempo, campeão novamente. Os dois, inclusive, jogam neste domingo uma espécie de final em Anfield. Se os londrinos vencerem, enconstam e ficam a 2 pontos, restando três rodadas para o término. Esta é a última chance para tirar o título da cidade dos Beatles.
A postura do Chelsea no Vicente Calderón foi algo semelhante ao famoso duelo Barcelona 1 x 0 Internazionale, em 2010, no Camp Nou. Na ocasião, o técnico português armou um verdadeiro muro à frente da área, dificultando a vida dos comandados, na época, de Pep Guardiola, outro semifinalista da atual edição. A Inter acabou campeã, batendo o Bayern na final.
Na volta, em Stanford Bridge, poderá ser a vez de Simeone armar o ferrolho e dificultar a vida dos donos da casa. Talvez seja esta a resposta para tal postura no embate disputado na Espanha.
Mas algo me intrigou no contexto do jogo: afinal, equipe Colchonera era tudo isso mesmo para o treinador do clube inglês armar aquele muro, mudando completamente a forma do time atuar, escalando quatro volantes, sendo um deles o zagueiro brasileiro David Luiz? Oscar, e Schürrle, um dos destaques da classificação diante do PSG, ficaram no banco. William, outro que possui qualidades ofensivas, mais defendeu do que criou. Aliás, quase ninguém criou. Tendo possibilidades reias, por comandar um elenco caro, com peças de qualidade, qual a razão de se defender sendo que poderia atacar?
Talvez para Mourinho e sua imprevisíbilidade, sim. Era este o jogo que o Chelsea deveria fazer.
E fez.
E o mesmo vale para o Atlético, uma das sensações da temporada, mas que se mostrou inoperante diante da forte marcação rival. Ficou devendo.
No Bernabéu, vimos quase o mesmo enredo do dia anterior. Mas, dessa vez, não foram os visitantes que se guardaram na defesa. O Real Madrid entrou em campo atrás, porém pronto para dar o bote no primeiro contra-ataque que surgisse. Diferentemente do Chelsea, que tem peças para atacar mesmo se precavendo um pouco mais, mas preferiu abdicar de jogar. Os merengues apostaram suas fichas na velocidade de Dí Maria e explosão de Cristiano Ronaldo, que ainda não está 100% fisicamente. Bale, considerado recentemente por uma revista como o jogador mais rápido do mundo, ficou no banco, como arma para o segundo tempo.
O Bayern, por sua vez, atuou como era previsto. Posse de bola, poucas faltas, jogo bonito, muita movimentação e o que tem acontecido quase sempre: poucas finalizações. Pouco ímpeto. Muito chuveirinho. Apenas um chute perigoso, protagonizado por Mário Götze, que parou na bela intervenção de Iker Casillas. Além disso, a dupla ofensiva ReR (Robben e Ribéry), também não funcionou como de costume. Derrota que preocupa.
Ao contrário do que muitos achavam pelo fato do Real não ter matado o confronto quando teve a oportunidade, o gol solitário marcado por Benzemá foi importantíssimo, pois transferiu toda a responsabilidade para o lado alemão.
Um balançar de redes espanhol em Munique pode jogar enorme pressão à equipe de Guardiola, que não tem conseguido envolver adversários mais fortes nos últimos jogos. Só para lembrar, os bávaros sofreram para superar o combalido United nas quartas. Fora isso, mesmo já campeões nacionais, tomaram uma sova de 0 a 3 do Borussia Dortmund (eliminado da UCL pelo Real Madrid), em pleno Allianz Arena.
A verdade é que, às vezes, o velho chavão se inverte: o melhor ataque é a defesa.
Antes de me despedir, nada contra Atlético de Madrid e Bayern de Munique. Pelo contrário. Mas torço por uma final entre Real x Chelsea. Digo isso, porque será, no mínimo, interessante ver dois times que possuem aspectos em comum decidindo a competição.
A final será em Lisboa e terá de um lado o melhor jogador do mundo, Cristiano Ronaldo, que é português; do outro, o melhor treinador, José Mourinho, de mesma nacionalidade. O segundo, podendo, inclusive, superar o ex-clube, no qual não conseguiu vencer a tão sonhada La Décima.
Enredo mais do que perfeito para um jogão de bola.
Mesmo que seja defesa contra defesa.
*Sempre que houver rodada do maior torneio de clubes do mundo, a Champions League, Felipe Oliveira escreverá neste espaço.