Clubes, parem de jogar
Só neste ano, pelo menos três casos de racismo no futebol ganharam repercussão nacional e até internacional: Tinga, na Libertadores; Arouca, no Paulistão; e o árbitro Márcio Chagas, no campeonato gaúcho. Neste final de semana, mais um entrou na conta do futebol. A vítima da vez foi Neymar. Diante da torcida do Espanyol, em rodada válida pelo campeonato espanhol, o camisa 11 do Barcelona ouviu imitações de macaco quando tocava na bola e até uma banana foi jogada no gramado.
O problema do racismo vem sendo discutido à exaustão por blogs, especializados ou não, de anônimos a figuras famosas do esporte, de acadêmicos a botequeiros como eu e meus colegas deste site. Todos em busca de soluções para o problema que assombra o futebol, que serve apenas como mais uma válvula de escape deste tipo de manifestação impregnada na sociedade.
Além de toda a análise sociológica que o assunto merece, o principal viés discutido para resolver (ou pelo menos desencorajar) o racismo nos estádios é o da punição. É consenso afirmar que nenhuma federação de futebol no mundo (da nossa paulista à Fifa) foi ou é capaz de apresentar medidas concretas contra o preconceito racial. As punições são, geralmente, multas e perda de mandos de campo.
Foi o que aconteceu com os três clubes envolvidos nos casos da introdução deste texto. O Real Garcilaso, depois de 39 dias do ocorrido, foi condenado a pagar multa de US$ 12 mil à Conmebol. Só. Não teve nem o mando de campo perdido. O Mogi Mirim teve de arcar com R$ 50 mil em multa e seguiu com o seu estádio fechado (conforme estava preventivamente). Já o Esportivo foi obrigado a pagar multa de R$ 30 mil e perda de mando de campo.
Muito pouco. São sempre as mesmas punições já conhecidas, que acabam sendo diluídas nas finanças dos clubes e que não afetam diretamente os torcedores (ir)responsáveis de maneira contundente (que ficam dois ou três jogos sem poder ir ao estádio, mas nada que uma televisão não resolva o problema).
Está cada vez mais claro que não podemos esperar uma atitude mais firme pelas vias formais de punição dos tribunais de justiça ou federações de futebol. Aparentemente falta culhão para que estas instâncias tomem medidas drásticas que desvirtuem partidas ou campeonatos inteiros para coibir o racismo. E quando a formalidade já não satisfaz a necessidade, o jeito é apelar para novas formas de protesto.
Já passou da hora de os clubes assumirem a responsabilidade sobre a integridade moral e psicológica de seus jogadores que são vítimas de racismo. A exemplo do que o Milan fez quando Boateng se irritou com os xingamentos – em um amistoso, é verdade – os clubes devem parar de jogar.
Simplesmente abandonem as partidas em que houver insultos racistas contra os seus jogadores. Voltem ao vestiário e fiquem lá até pararem com os xingamentos. Se for preciso, boicotem a partida, voltem para os seus ônibus e vão embora. Danem-se os três pontos, dane-se o campeonato. Não há futebol se houver racismo, é esta a condição inexorável.
Os clubes têm que tomar as rédeas da situação. São seus jogadores ali. Parem de jogar enquanto houver racismo.