Um reencontro entre mãe e filho
Ontem, enquanto me arrumava para ir ao Pacaembu com os camaradas ver mais uma partida decisiva do Palmeiras, me senti mal. Estava envergonhado, afinal, nunca fui do tipo de torcedor que vai ao campo ver seu time apenas quando a fase é boa. Muito pelo contrário. Mas, atualmente, este tem sido o cenário. E são vários os motivos, porém nenhum é coerente o bastante para justificar minha ausência.
No caminho, o papo dentro do carro era justamente esse. Lembrávamos das decepções que já presenciamos in loco, na bancada, com a bandeira na mão e a lágrima escorrendo no rosto. As alegrias foram muitas, na mesma proporção que as decepções. Isso é torcer.
Ipatinga, Sport, Santo André, Tijuana, Asa… Nossa, sai zica! A lista é extensa. No meio da conversa, meu pensamento corria os 90 minutos que só se dariam quando o relógio marcasse 21 horas. O Bragantino, também uma asa negra, teria que ser extirpado.
Chegamos faltando 45 minutos para começar os 90 pelos quais havíamos nos deslocado até lá. Ainda tinha “um primeiro tempo” de espera. Paramos o carro, soltamos vintão na mão do carinha que (nunca) olha os veículos e descemos em direção à Praça Charles Miller. Entre algumas brejas, churrasquinhos e tragos, encontramos, por sorte, o parceiro do FFC João Paulo Tozo e o sobrinho dele. Seguimos, então, para as arquibancadas do mítico Paulo Machado de Carvalho. O prélio, agora, estava prestes a começar.
Ao nos acomodarmos na amarela, o comportamento de Edson, meu amigo de longa data, e que não assistia a um jogo do Palmeiras há quatro anos, me chamou a atenção. Era emocionante observar suas reações a cada lance. Assim como foi emocionante ver o primeiro tento marcado pelo Verdão, que fez a torcida explodir em festa. Com o faro de matador em dia, Alan Kardec começou a espantar a zebra aproveitando um desvio da zaga, após uma cobrança de escanteio. Enquanto isso, ao meu lado, Edson pulava igual a uma criança. Achei curioso sua euforia. Mas não falei nada sobre sua atitude, apenas observei.
Após sair na frente, a equipe de Gilson Kleina tirou o pé e administrou o resultado. Foi para o intervalo com a vantagem. A equipe de Bragança pouco assustou a meta de Fernando Prass. O que mais assustou a quem viu o jogo foi a fraca arbitragem de Flávio Guerra, que permitiu guerra. Permitiu violência pra cima dos jogadores palmeirenses, especialmente sobre aquele que vestia a camisa 10.
Ainda limpando a mão suja de salgadinho, vi o segundo tempo começar. Entre faltas invertidas e alguns ensaios de pressão do Bragantino, notei uma postura diferente da equipe alviverde. E, nela, havia um chileno enjoado, habilidoso e,sobretudo, provocador, parecido com aquele de 2008, que chamava o jogo para si. Victor, meu camarada de vida, música, faculdade e Palmeiras, virou para mim e disse: “Eu te falei que hoje era o jogo do Valdívia”. E foi mesmo. A etapa final foi toda dele. Todas as bolas que passavam pelo pé direito dele levavam perigo ao adversário.
Como há muito não se via, o Mago ganhou na raça a jogada do segundo gol e rolou para Bruno César. Aberto na direita, o camisa 30, que também foi bem, deixou o regular Leandro na cara do gol. O camisa 38 foi abafado pelo goleiro e a bola se ofereceu para Kardec. Calmo, como de praxe, o artilheiro do Paulistão serviu o polivalente Wesley, que apenas teve o trabalho de mandar a pelota para a rede. Vaga garantida nas semifinais.
Enquanto o estádio entoava em êxtase o novo grito “100 anos de histórias”, olhei para minha esquerda e me deparei com Edson chorando, apontando para cima em forma de agradecimento.
Voltei a ficar quieto e o deixei curtir aquele momento. Que era só dele com o Palmeiras. Semelhante a um reencontro entre mãe e filho, que não se viam há anos devido aos incautos da vida. Vida e destino que me parecem reservar algo de bom para o futuro verde.
De um Palmeiras diferente. Sem muito alarde e fama, mas que, desta vez, com muito trabalho e, principalmente, sangue na veia, promete ir longe.
E eu?
Ah, eu deixei Edson curtir aquele momento. Que era só dele e do Palmeiras. Um reencontro entre mãe e filho, que não se viam por muito tempo. Isso pode ser sentido no vídeo abaixo, de Gabriel Santoro: