Respirando por aparelhos
É triste ver no que se transformaram os campeonatos estaduais. Meu clube de coração, o Palmeiras, por mais que tenha vencido torneios teoricamente mais importantes e ostente a pompa de maior campeão do país ao lado do Santos, comemora até hoje o dia em que quebrou um longo jejum em cima do maior rival em uma decisão de Paulistão. Naquela época, escrita com merecimento na forma aumentativa.
Sou da opinião de que título é título. Ainda sustento o argumento de que o Paulistão, assim como vários outros estaduais pelo Brasil afora, não devem acabar.
Sou fã do mata-mata, da tradição, da rivalidade local!
Afinal, esses campeonatos contribuíram, e muito, para a formação de vários clubes na história do futebol brasileiro. E é por isso que merecem uma reformulação digna, que alimente o público, patrocinadores e mídia, funcionando de maneira justa com todos, principalmente com os clubes pequenos – razão pela qual o movimento Bom Senso F.C. ainda trava uma dura batalha com os principais responsáveis pelo atual cenário: as federações e a honrosa CBF.
Para mim, a razão dos Estaduais estarem jogados às traças é mais por pura má vontade de quem o organiza, do que exatamente culpa da relevância que o torneio realmente possui para os moldes do futebol moderno. A edição do Cariocão 2014, um dos únicos torneios de começo de ano que eram atrativos aos olhos da plateia, simplesmente perdeu a graça.
A Federação de Futebol do Rio (Ferj) conseguiu transformar a Taça Guanabara (1°turno) numa disputa de pontos corridos totalmente monótona, sem as emocionantes e tradicionais semifinais e finais. Resultado? Um grande e preocupante número de estádios vazios na insossa primeira fase. Há uma semana o Flamengo sagrou-se campeão com menos de 10 mil pessoas nas arquibancadas do “New Maracanã”. O detalhe mais inusitado é que os jogadores não sabiam nem se poderiam comemorar. A torcida, por sua vez, nem fez questão.
Ainda no Rio de Janeiro, nos últimos cinco campeonatos da segunda divisão do regional, 25 equipes desistiram de disputar a competição. O motivo de abandono é óbvio: falta de suporte da Ferj e altos valores financeiros.
Outro ponto a ser analisado é, talvez, um dos motivos que culminem para a queda livre dos Estaduais no gosto do torcedor brasileiro: o arrastado calendário.
De janeiro até maio temos apenas jogos que não valem nada, em uma primeira fase longa, com pouca emoção, na qual até a rivalidade, único fator relevante, é prejudicada.
Enxergo que o problema não esteja somente na falta de qualidade e interesse dos Estaduais, mas sim no efeito que eles causam no restante da temporada brasileira – já tão cheia e, principalmente, desorganizada.
O Brasil é muito grande em proporções territoriais. Seria um total desprezo jogar no lixo as culturas de muitas regiões onde o futebol é rico em formação, mas suas equipes sequer conseguem chegar na primeira divisão local e, tampouco, nacional. Como citei acima, os pequenos jogam apenas três meses nos moldes atuais de disputa. Após o término, a maioria dos atletas cai na vala do desemprego e os clubes no endividamento inacabável.
Regulamentos simples, que priorizem ao máximo a competitividade, dando dinamismo e atraindo interesse, não priorizando política e favores entre dirigentes. Não acabem com o que não merece acabar. Salvem os Estaduais!