Vinícius e a má formação de atacantes
É fato que Vinícius não é dos finalizadores mais eficientes. Diego Carvalho, por exemplo, vive xingando o atacante do Palmeiras. Eu, idem, ainda que tente defendê-lo vez ou outra. Mas, se analisarmos friamente, ele é quem menos tem culpa. Esse “defeito” vem da sua formação, aparentemente, mal feita.
Vinícius corre muito. Enxerga bem o posicionamento dos colegas. Dribla com qualidade e cria bons lances, como diante do Paulista na última rodada do estadual. Mas não tem presença de área e comete erros bisonhos quando precisa concluir as jogadas. Ora chuta fraco, ora chuta torto. Às vezes, faz as duas coisas ao mesmo tempo. Aliás, virou rotina nos clubes formar jogadores com essas características.
E um atacante, mesmo que não seja centroavante, precisa saber chutar, não?
Problema semelhante vive Lucas, ex-São Paulo. Seu atual time, o Paris Saint-Germain, criticou a formação dele no Tricolor. E não é para menos. Tratado como joia em terras canárias, Lucas não consegue se firmar na fraca liga francesa, na qual o clube que defende nada de braçadas largas rumo a mais um caneco.
Até mesmo Neymar, principal nome do futebol brasileiro nos últimos tempos, não subiu ao profissional com bom chute. Claro, é preciso levar em conta que estreou na equipe de cima com apenas 16 anos, assim como Vinícius. Imagina-se, porém, que um jogador é considerado profissional quando está completo. Ou, pelo menos, bem perto disso. E não me parece o caso das crias de Santos e Palmeiras, quando subiram, e de tantas outras. Afinal, saber chutar ao gol está – ou deveria estar – entre as premissas básicas deste esporte, não? E o início de carreira precoce, sem dúvida, é um dos causadores do problema.
Ao falar sobre a falta de bons centroavantes, Zico, um dos craques mais geniais que tivemos, foi direto ao ponto: “Levam pela altura, e não qualidade”. Seguindo esses critérios, era bem provável que Romário jamais tivesse virado jogador.
Há quem defenda que a crise de goleadores é mundial. E não é. A Trivela, site especializado na cobertura do futebol europeu, fez uma lista que comprova a existência de ótimos centroavantes. O triste é que eles não são brasileiros.
Penso que falta dedicação ao trabalho de base. O Santos é quem exerce melhor a função de revelar jogadores, mas, ainda assim, pagou R$ 61 milhões em Leandro Damião e comprometeu as cotas de tevê de 2017. A meu ver, o antigo colorado não vale tudo isso e, pior, não é difícil formar um jogador igual a ele. E a história do futebol brasileiro mostra isso. Não precisamos ir longe, basta voltarmos aos anos 90 e iremos nos deparar com alguns atacantes que, hoje, brigariam por vaga no linha de frente do selecionado nacional.
Vinícius tem seus méritos: é o jogador mais jovem a vestir o manto alviverde; o segundo mais novo a marcar um gol com tal traje e, aos 20 anos, está perto de completar 100 jogos pelo Palmeiras.
Lucas, vendido a preço inflacionado, também possui várias qualidades. Não à toa chegou à Seleção Brasileira e, antes de ir pra França, era tido como o melhor do país depois de Neymar. No entanto, pensar que esses times revelaram ou ajudaram a formar bons nomes debaixo das traves (Marcos, Cavallieri, Deola, Sérgio, Velloso, Zetti, Rogério, Dênis…) e, há muito, não revelam nenhum grande centroavante, é deprimente.
Se continuar nesta toada, a maior dificuldade de Felipão também será a dos próximos técnicos do Brasil: encontrar um bom camisa 9 para jogar a Copa.