Marcão e a carência de ídolos
Com oito anos, meu primeiro ídolo no futebol foi Marcos. Naquela época, não passava por minha cabeça que, um dia, ele se aposentaria. Porque, claro, crianças acreditam que seus heróis nunca pendurarão a capa no cabide e perderão seus superpoderes.
Mas São Marcos pendurou em 4 de janeiro de 2012. No caso, as luvas e a auréola. Neste domingo de futebol foi além: completou quarenta primaveras.
O comemorado aniversário do mais novo quarentão do pedaço me fez voltar a refletir sobre a já antiga necessidade de ídolos no nosso futebol – se abrirmos o leque, no nosso esporte. E a situação só piorou com a iminente aposentadoria do também goleiro-ídolo Rogério Ceni no fim do ano e as recentes saídas de Neymar e Paulinho para a Europa.
Se procurarmos pelo Brasileirão, além do camisa 01 do São Paulo, não encontraremos muito mais que Juninho Pernambucano no Vasco, Alex no Coritiba, Fábio no Cruzeiro, Harlei no Goiás, Paulo Baier no Atlético Paranaense, Léo no Santos e Seedorf, que, mesmo em pouco tempo, tem conquistado com todo o merecimento essa condição no Botafogo. Que realmente possa ser chamado de ídolo, aquele com longa e vitoriosa trajetória num time, ninguém mais. Até Chicão, na reserva corintiana, foi pro Flamengo. O consolo é que Alessandro e Ralf permanecem no Parque São Jorge.
O que, porém, não me consola.
Se futebol não existe sem torcida, também não existe sem ídolos. E se existe, me desculpe, não é futebol.
O ídolo é aquele que você, leitor, sonha em ser.
Aquele que, se tivesse a chance de ser, não a trocaria por nada nesta vida.
Aquele cujos feitos ficam salvos para sempre em sua memória.
Aquele que, nas favelas, dá direito à vida a quem estava fadado à morte.
Aquele que leva o torcedor, inclusive de outra torcida, para o estádio.
Aquele diante do qual se fica de pé para aplaudir.
Aquele com o qual a bola ri, dança, radiante, diria meu ídolo Eduardo Galeano.
Aquele que, diriam os os negociadores dela, atrai patrocinadores e engorda as receitas dos clubes e campeonatos.
Aquele que, na atualidade, faz uma tremenda falta por aqui.
Não sei se o problema tem a ver com a tal ausência de amor à camisa, da qual recentemente Rodolfo Gomes tratou.
O que sei é que uma espécie iluminada como essa não pode se extinguir.
Ainda mais depois de hoje, quando o eterno camisa 12 palmeirense, mesmo com quatro décadas nas costas, me provou que aquele garoto de oito anos tinha razão: heróis serão sempre heróis…
Parabéns, Marcão!
Em homenagem ao aniversário do maior ídolo da história recente do Palmeiras — para muitos, de toda a história –, reproduzo neste post o que escrevi aqui, no Futeboteco, após assistir à inesquecível despedida dele no Pacaembu, na véspera de 12/12/12:
E ele subiu aos céus… (clique no título da coluna para lê-la)