Torcer é amar
Hoje é segunda. A segunda segunda do Palmeiras na Segunda. Uma segunda tão triste quanto aquela de 18 de novembro de 2002. Uma segunda que poderia ser menos decepcionante, pois, diferentemente daquela primeira, na qual o Verdão só dependia dele e podia se safar na última rodada, a equipe de agora só esperava o golpe de misericórdia – por ironia, dado pelo ex-ídolo Vágner Love, em chute desviado por Román, que já havia rebaixado outro gigante, o argentino River Plate.
A cada rodada a corda se apertava no pescoço, os resultados dos outros passavam a fazer parte das nossas contas e o rebaixamento era iminente até para o mais apaixonado palmeirense. Ou não.
E é aí que tomo a liberdade para meter o bedelho no que escreveu o genial Clóvis Rossi na Folha de São Paulo de hoje (leia aqui). Como também fizeram os meus maiores ídolos no Jornalismo Esportivo, e igualmente palestrinos e geniais, Paulo Vinícius Coelho (leia aqui) e Mauro Beting (leia aqui).
Torcer para clube de futebol é amar incondicionalmente. É aquele amor à primeira vista, que a gente nem sabe de onde saiu e por que saiu. Mas sabe que nunca sairá. E que ele não é platônico, pois é vivenciado a cada segundo, minuto e partida. É aquele amor que a gente sente antes mesmo de saber o que é amor. É aquele amor que nasce antes mesmo de nascermos. Antes mesmo de sabermos o que é futebol. Antes de aprendermos a ler e escrever. Antes da primeira bicicleta. Do primeiro brinquedo. Da primeira aula. Do primeiro beijo. Da primeira amada. Da primeira namorada. Da primeira vez.
Foi assim comigo. Sei que também foi com você, leitor, seja para qual time torça.
Na verdade, acho que a única coisa que fiz antes de ser Palmeiras foi dizer “mãe”, “pai”, chupar chupeta e andar, ainda que sujeito a tropeços. Tinha quase 3 anos e o ano era 1993. Ano do primeiro esquadrão da Parmalat. Ano em que Sérgio, Antonio e Roberto Carlos, César Sampaio, Zinho, Edmundo, Edílson e Evair, todos comandados por Vanderlei Luxemburgo, acabaram com a agonia de 17 anos na fila.
A minha primeira camisa foi desse time, que jogava de listrado e verde grama. Mas antes tive um boné – não o tenho mais, mas tenho a camisa (foto). Foi com ele que escolhi o Palmeiras em meio a uma família de são-paulinos – é verdade, não tão apaixonada por futebol quanto aquele menino seria. Isso aconteceu numa banca de jornal em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, onde morava na época e voltei a morar há quatro anos. Foi do nada. À primeira vista. Simplesmente apontei e disse que queria aquele boné verde. Teve até festejo do dono da banca, que ainda é dono dela e provavelmente mais um palestrino choroso nesta segunda de noite chuvosa. Não me lembro de nada disso. Minha mãe que conta. E eu sinto.
Não sei por qual motivo contei tudo isso, afinal, o nome deste blog é Futeboteco e a ideia aqui, claro, é debater sobre temas do futebol brasileiro e internacional. E eu não debati sobre nada, obviamente. Também porque quem escreve agora não é jornalista, estudante de Jornalismo, palpiteiro, colunista, comentarista, louco por futebol, aspirante a desenhista ou qualquer outra coisa. Mas um alguém que se tornou palmeirense antes de ser ou querer ser qualquer uma dessas coisas.
E por isso não poderia falar de nada senão de amor. Sentimento que é a locomotiva do esporte. No Brasil, do futebol. Não existe futebol sem torcida. Não existe torcida sem amor.
Quem é palmeirense de verdade – e não aqueles que ameaçam de morte as pessoas – não tem divisão para torcer. E o mesmo vale para qualquer outro torcedor, de qualquer outra torcida, desde que ele saiba o que é torcer.
Desta forma, ao contrário do que disse, Clóvis, o time que escolhemos é como a mulher de nossas vidas, que mesmo que esteja mal vestida e num dia em que seja impossível suportá-la, continuaremos, do mesmo jeito, com ela.
Mesmo depois de ontem, eu estou vestido com o manto e de mãos dadas com o meu Palmeiras.
E longe de mim querer te ensinar o que é torcer, Clóvis, a quem não tenho o prazer de conhecer.
No entanto, posso te dizer, e peço permissão para tal, que não foi assim que aprendi a fazê-lo, mesmo que isso tenha acontecido, também, numa época de glórias do nosso clube.
Que vai subir em 2013, isso é fato.
Não acreditemos, porém, que o acesso basta.
Mas, sim, que volte diferente, como sugere a capa do Diário Lance! desta triste segunda.
Torço por isso.
Tenho certeza que você, Clóvis, e todos os verdadeiros palmeirenses, também.
PS: O colunista pede um desconto por publicar tão tarde este texto. Acontece que, além de palmeirense, ele troca o dia pela noite. A partir de 2013, assistirá futebol também às terças, sextas e sábados. Mas isso ele espera que só nesse ano.