Barcos, Marcos, milagres, Libertadores e Série B
Posted On 11 de novembro de 2012
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0 Ao fim da tarde deste domingo, poderemos, muito bem, ter o campeão brasileiro de 2012. Não fosse a goleada do Botafogo, ontem, diante da Lusa, o Atlético-GO poderia, também, ter a companhia do Palmeiras na Série B de 2013. Mas nada que alivie o agoniado Verdão. Pelo contrário: se é milagre bater o virtual campeão Fluminense, hoje, no Prudentão, milagre maior permanece sendo escapar do descenso.
Até porque quem estava acostumado a operar milagres com a camisa palestrina não os faz mais nos gramados. Aliás, a despedida de São Marcos, provavelmente paralela ao retorno do Palmeiras à Segunda Divisão, da qual tirou o clube em 2003, é uma daquelas injustiças tão injustas quanto Zico, Sócrates, Falcão, Cerezo e a Seleção Brasileira de 1982 não terem levantado uma taça de Copa do Mundo. Por outro lado, o fato de o adeus de Marcos também acontecer na mesma temporada em que o Verdão voltou a ganhar um título nacional após 12 anos não deixa de ser algo que sintetize o que foi a mais de uma década de titularidade do santo na meta palmeirense: glórias aliadas a eternos sofrimentos.
O argentino Barcos e um outro Marcos, este de sobrenome Assunção, são os santos da vez. Não fossem eles o Palmeiras já estaria rebaixado. Não fossem eles o Palmeiras não teria levantado a Copa do Brasil e se classificado para a Libertadores da América do próximo ano.
E é com esse paradoxo que o Palmeiras tem de saber lidar.
A disputa da Série B, caso se concretize o segundo rebaixamento palmeirense neste século, não pode ser problema para encarar, na mesma temporada, a Libertadores. O Palmeiras tem de usar o fato de disputar o torneio continental ao seu favor: se estar no segundo escalão do futebol nacional pode ser um empecilho para que se monte uma equipe competitiva, disputar no primeiro semestre a Libertadores é um poderoso atrativo. O contrato com a TV Globo, que lhe rende cerca de 80 milhões de reais por ano, também não prevê redução imediata em caso de rebaixamento (apenas no segundo ano de Série B), e a receita do clube pode até aumentar, como aconteceu quando disputou a Segundona em 2003. A questão é saber usar esse dinheiro e parar de gastar com jogadores e treinadores caríssimos que, antes de chegarem, já se sabe que não darão retorno equivalente ao que custaram. E quando na prática se percebe isso, a diretoria insiste neles. E Valdívia não é o único exemplo, evidentemente.
Jogar a Libertadores sem favoritismo, talvez sem a mesma pressão e aproveitando alguns bons nomes das categorias de base, pode ser uma boa para um clube que é uma panela de pressão dentro e fora de campo. Com a coisa dando certo, quem sabe aspirar conquistas maiores durante a competição. Mesmo que alguns jogadores saíam após a disputa da copa continental, a base da equipe que jogou o torneio tem totais possibilidades de garantir a volta à Série A no final do ano.
Mas Barcos e Marcos, verdes que são, ainda têm esperança. Hoje a dupla tentará, contra o Flu, praticar mais um dos seus milagres. Porém, como dito no início deste texto, nada que livre o clube do maior deles. E se o rebaixamento realmente vier, que o Palmeiras não deixe escapar outra chance de voltar a ser Palmeiras.
De promover uma reestruturação total na política do clube, aprender a usar o dinheiro que entra no caixa, trocar os conselheiros torcedores por profissionais da área, pôr fim aos cartolas dinossauros dos quais Belluzzo, infelizmente, não conseguiu se livrar, investir nas categorias de base e, enfim, ter uma gestão consciente e profissional. De ter sua torcida organizada jogando junto, e não ameaçando de morte atletas e dirigentes – algo que, antes da enorme possibilidade de cair para a Série B, da pretensão de jogar a Copa do Mundo de um e da possibilidade de aposentadoria do outro, pode, efetivamente, expulsar Barcos e Marcos do Parque Antartica. Assim como só ajudará a expulsar o clube da elite do futebol nacional. Como só ajudou a fazer com que, há tempos, o time jogue tenso. E para comprovar isso nem é preciso citar os casos de agressão de torcedores a jogadores palmeirenses nos últimos anos.
Em caso de Barcos, Marcos e seus companheiros conseguirem sucesso e o Verdão, sabe-se lá como, permanecer na Primeira Divisão, que uma nova ilusão, a exemplo do que aconteceu após o título da Copa do Brasil, não ocorra. Que a carência do torcedor não faça com que o clube glorifique um novo Betinho. Que em 2013 não somente o estádio seja novo. Que o Palmeiras finde o amadorismo e volte a ser grande.