O leão que só sabe rugir
O desabafo de Emerson Leão, em entrevista à Folha de São Paulo de ontem (clique AQUI e confira), foi muito elogiado de uma forma geral.
E não poderia ser diferente.
A entrevista merece os louros por vários motivos: Leão, diferentemente de boa parte dos nossos futebolistas, reflete sobre o seu meio, não fala o óbvio e é sempre muito franco. Por isso, pontuou ótimos temas. Claro, com a contribuição do entrevistador Rafael Reis, que soube, com competência, lhe fazer perguntas pertinentes.
No entanto, isso não exime o treinador são-paulino de ter professado algumas asneiras.
Ao mesmo tempo que a entrevista revela um profissional que pensa sobre seu ofício, ela ilustra o quão autoritário Leão é em suas decisões, quase sempre imediatistas e motivadas por ações repressivas.
Ausência de profissionalismo e comprometimento, deslumbramento, vaidade excessiva, fanatismo religioso, transformação de jogadores em celebridades, indústria futebolística, de fato são todos problemas do futebol atual muito bem apontados pelo treinador. Agora, reprovo, sumariamente, a maneira como os trata.
Leão é preciso quando compara a rebeldia dos hippies com a rebeldia marrenta e sem nenhuma ideologia dos boleiros contemporâneos: “Não é a geração da liberdade, da contestação, como foram os hippies. É a geração da vaidade”, argumentou.
Todavia, ele peca ao tentar solucionar o problema de maneira autoritária, com vetos e punições. Enxergar o deslumbro – e uma conseguinte falta de foco – dos jogadores na preocupação excessiva com suas imagens é legítimo e faz total sentido. Porém, reprimi-los com a proibição de brincos, ou como fez Passarela na Copa de 1998, vetando o uso de cabelos longos, além de gerar revolta em seus comandados, é despótico, tirano. Logo, totalmente reprovável.
Leão, que quando jogava combatia ditaduras semalhantes as que hoje implanta, não é arbitrário somente como técnico, mas, também, enquanto cidadão. “É só ver o que aconteceu na USP. Os caras são presos por causa de um delito, se revoltam com a polícia, invadem um departamento, explodem o que veem pela frente e querem sair aplaudidos. É sinal dos tempos”, disse à Folha.
Sem entrar no mérito do completo desconhecimento do que são os Movimentos Estudantis e do que ocorre na Universidade de São Paulo (especialmente na FFLCH), suas palavras personificam um alguém incapaz de ser contestado.
Vale lembrar que o técnico, em outros clubes, protagonizou posições xenofóbicas, se assumindo contrário à atletas pelo fato de serem argentinos. Quando retornou ao São Paulo, foi perguntado sobre como seria seu relacionamento com o meia argentino Cañete, surpreendentemente relacionado no lugar de Rivaldo na reestreia do treinador contra o Libertad, pela Copa Sul-Americana. “O que sempre digo é que precisa ter qualidade, capacidade, aí a nacionalidade não muda”, explicou.
Em outra oportunidade, desta vez no Palmeiras, avisou a seus atletas: “jogador que precisa de psicólogo, que vá procurar na clínica”.
Leão foi um dos maiores goleiros que o Brasil já teve. Como técnico, é só mais um.
Fraco tecnicamente, é um pseudo-disciplinador que, por seus times funcionarem à base da força e imediatez, tem se especializado em apagar incêndios.
Foi para isso que o São Paulo lhe buscou, há 14 meses sem trabalhar.
Porém, no final de sua carreira, nem mais isso está conseguindo e, provavelmente, não permanecerá no Morumbi em 2012.
Antes de dar adeus, entretanto, deixa aos seus companheiros de profissão importantíssimas observações sobre as dificuldades encontradas no futebol atual.
Mas, na hora de resolvê-las, que eles, os técnicos de hoje e amanhã, sejam mais conscientes e menos improcedentes.