As chuteiras abertas da América Latina: Em ruínas
Se você assistiu aos últimos amistosos da Seleção brasileira, caro leitor, rapidamente entenderá do que eu estou falando.
Porque seja sincero: você sentiu falta de alguma coisa em algum dos jogos da tal Copa Roca?
Antes que você responda: não, não é de Messi que eu estou falando. Tampouco de Aguero, Pastore ou todos os outros caras que não puderam ser convocados por jogarem na Europa.
Estou falando de algo muito mais simples. Você por acaso sentiu falta de uma coisa chamada “adversário”?
Eu senti.
Digo isso porque simplesmente não reconheci a Argentina que perdeu de 2 a 0 para o Brasil. Minha vida toda, me acostumei com uma Argentina de meias habilidosos e atacantes rápidos. E, simplesmente, não vi nada disso nas últimas partidas da Albiceleste.
Sim, isso tem uma razão muito óbvia de ser: os craques do país, hoje, jogam todos em outros continentes. Logo, se não se pode chamar quem joga na Europa, não se chama ninguém que preste, afinal, o campeonato nacional é uma piada.
Mas é aí que eu quero chegar: o fato do campeonato argentino ser uma piada é absolutamente preocupante.
Há não muito tempo atrás, vimos o Boca Juniors ser campeão da Libertadores com um timaço. Mais recentemente ainda, vimos o Estudiantes faturar a Libertadores com um ótimo time. Mais antigamente, então, se formos puxar, vamos nos lembrar do River de Ortega e Francescoli. Ou, mesmo sem ir tão longe, basta pensar no ótimo Vélez, que perdeu para o Peñarol este ano.
A questão é: o que aconteceu com esses times?
Como a Copa Roca bem provou, hoje, a seleção dos melhores jogadores do Argentinão não passa de um punhado de volantes carniceiros, zagueiros fraquíssimos e atacantes meia-boca.
Hoje, o melhor time do país é disparadamente o Boca. Quem são seus craques? Os mesmos de sempre: Riquelme, Battaglia, Rodríguez e Schiavi. Todos com mais de 34 anos, sem jogar um terço do que já jogaram antes. Além desses, nada mais do que jogadores medianos, como os atacantes Cvitanich e Viatri.
Enfim, um time que, se disputasse o Brasileirão, não brigaria nem por Libertadores. Duvida? E seu eu disser que o máximo que eles conseguiram na última rodada foi ganhar de 1 a 0 do glorioso Tigre (já ouviu falar?).
Ah, e um detalhe: como eu disse, esse é o melhor time da Argentina. De resto, entre os dez primeiros colocados, abundam clubes minúsculos, como Godoy Cruz, Lanús, Colón, Unión, Belgrano e Rafaela (os últimos dois, recém promovidos da Série B). O Racing, com um time pra lá de limitado, abiscoitou o quarto posto, enquanto o Vélez, que vendeu seus melhores jogadores para a Itália, figura em 9º. Enquanto isso, os tradicionalíssimos Estudiantes, San Lorenzo e Independiente brigam na parte de baixo da tabela (sem falar no River, que já caiu pra Segundona).
Esse é o panorama atual dos clubes argentinos. E seus jogadores são aqueles que enfrentaram o Brasil de Neymar. É esse o campeonato que, meses atrás, levou o colunista Juan Pablo Varsky a clamar desesperado para que alguém faça alguma coisa pelo futebol do país, que já não tem mais equipes capazes de acertarem três passes em sequência.
E é verdade: para a Copa, o técnico Sabella poderá convocar Messi e companhia. Mas já pensou quando essas figuras se aposentarem? A julgar pelo que eu vejo, o futuro não é nada animador…
Aqui, uma feliz lembrança da época em que os clubes argentinos tinham grandes jogadores: