Isenção?
Posted On 14 de agosto de 2011
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0 A convite do apresentador do programa, fui ao site do Fantástico e conheci os “Princípios Editoriais das Organizações Globo”.
Entusiasmei-me quando li, logo no primeiro item, a palavra Isenção. Que maravilha se ela realmente passar a existir nas transmissões de futebol das empresas da Globo!
Sim, porque futebol é jornalismo, não? E dos mais sérios, já que prende a atenção de milhões de pessoas na tela da tevê, provoca alegrias, aflições e até mortes.
Cada jogo é um fato jornalístico complexo, com muitas nuances. E mais do que o evento esportivo em si, a pauta, a escolha do assunto a ser coberto, já é uma atividade jornalística e exige isenção.
Lembro-me de que na sua estréia na Série B de 2008, um sábado, o jogo do alvinegro da capital foi escolhido para ser transmitido pela TV Globo, em detrimento da estréia do tricolor paulista, àquela altura o campeão brasileiro (da Série A). Que critério jornalístico “isento” pode fazer uma partida da Série B ser mais importante do que a do campeão da Série A?
A quantidade de torcedores do time B?
Bem, então coloquemos o jornalismo de lado. São Paulo é a cidade mais populosa do Estado mais populoso do Brasil. Isso quer dizer que o sotaque das novelas deve ser o paulista? Ou que o Jornal Nacional deve reservar a maior parte do seu tempo para falar da terra bandeirante? Se for o mesmo critério…
Segundo esses tais “princípios editoriais” da Globo, “Isenção é a palavra-chave em jornalismo. E tão problemática quanto “verdade”. Sem isenção, a informação fica enviesada, viciada, perde qualidade. Diante, porém, da pergunta eterna – é possível ter 100% de isenção? – a resposta é um simples não. Assim como a verdade é inexaurível, é impossível que alguém possa se despir totalmente do seu subjetivismo. Isso não quer dizer, contudo, que seja impossível atingir um grau bastante elevado de isenção. É possível, desde que haja um esforço consciente do veículo e de seus profissionais para que isso aconteça”.
Entre os princípios a serem seguidos pelo jornalista da Globo para que haja isenção, o documento destaca que “Todos os jornalistas envolvidos na apuração, edição e publicação de uma reportagem, em qualquer nível hierárquico, devem se esforçar ao máximo para deixar de lado suas idiossincrasias e gostos pessoais. Gostar ou não de um assunto ou personagem não é critério para que algo seja ou não publicado. O critério é ser notícia”.
Outros aspectos da “Isenção” destacados nos princípios editoriais das organizações Globo:
“Os jornalistas das Organizações Globo devem evitar situações que possam provocar dúvidas sobre o seu compromisso com a isenção.”
“É inadmissível que jornalistas das Organizações Globo façam reportagens em benefício próprio ou que deixem de fazer aquelas que prejudiquem seus interesses.”
“Os veículos das Organizações Globo devem ser transparentes em suas ações e em seus propósitos. Isso significa que o público será sempre informado sobre as condições em que forem feitas reportagens que fujam ao padrão.”
Outro detalhe: a correção das informações.
O documento fala também de correção, ou seja, da precisão da notícia. Neste caso, é evidente que a Globo tem passado por cima da decisão da CBF, da Conmebol e da Fifa, de considerar os campeões brasileiros desde 1959. A Unificação dos t[ítulos desde 1959 é oficial e irreversível. A informação correta, neste caso, está sendo negligenciada pela Globo. Vejamos o que pregam os tais princípios:
“Correção é aquilo que dá credibilidade ao trabalho jornalístico: nada mais danoso para a reputação de um veículo do que uma reportagem errada ou uma análise feita a partir de dados equivocados. O compromisso com o acerto deve ser, portanto, inabalável em todos os veículos das Organizações Globo.”
“O rigor com minúcias não é exagero, mas obrigação. Todos os dados de uma reportagem – nomes, datas, locais, horários, idades, endereços, referências históricas, descrições de processos, definições científicas, termos de um contrato, explicações sobre formas de governo, enfim, tudo o que de objetivo houver numa reportagem – devem ser exatos, corretos, sem erros.”
“Em reportagens que requeiram conhecimento técnico, a consulta a especialistas deve ser obrigatória. Nenhum jornalista precisa ser médico, químico, biólogo ou historiador. Mas, por isso mesmo, para não errar em assuntos técnicos, todo jornalista precisa se socorrer de assessoria especializada, ouvindo sempre mais de um técnico toda vez que o assunto for controverso.”
Será que vai mudar alguma coisa?
Certamente fizeram esta carta de intenções pensando em política, economia, polícia, enfim, áreas do jornalismo que passam ao largo do esporte. Porém, como esporte e, mais propriamente, a cobertura futebolística, também é jornalismo, esses “princípios” devem ser aplicados também a ela.
Assim, fica decretado que a pauta jornalística da Globo priorizará, obviamente, os times e os jogadores com maior interesse jornalístico. Também fica subentendido que a emissora respeitará a decisão das entidades esportivas de que o País já tem campeões brasileiros desde a Taça Brasil de 1959.
*Este texto, originalmente publicado em 14 de agosto, teve de ser retirado do site e republicado dois dias depois (16) por conta de um problema no html do botão do Futeboteco no Facebook, o que acarretou na desconfiguração da página inicial do Futeboteco duarante dois dias.