Por esta e pelas próximas gerações
A Copa América, primeira competição oficial da “Era Mano”, enfim, acabou. Numa final com duas seleções que se valeram do trabalho bem feito no último Mundial, em que, nesta tarde, a melhor delas, o Uruguai, se sagrou campeão.
E quais, agora, devem ser as lições tiradas pelo Brasil?
Os fatos se incubem de responder: mais que em qualquer outra situação, seleção funciona a longo prazo.
São quatro anos pelejando, tentando achar a melhor fórmula, separando o joio do trigo de maneira a moldar a melhor equipe, tudo em prol de uma maior competitividade no mês mais aguardado desta longa e árdua trajetória, cujo erro nele faz com que se esqueça qualquer acerto nos ensaios.
Como salientei no texto pós-eliminação da Copa América (clique AQUI e leia), tal missão se torna ainda mais complicada quando não se disputa a Eliminatórias, torneio imprescindível para a formação de qualquer selecionado.
É elementar que se entenda o processo de entressafra por qual passa o nosso futebol. Fator que implica diretamente na tão necessária reformulação da Seleção Brasileira.
O que falar, então, à respeito do referido Mundial desta vez acontecer em território nacional e a responsabilidade de vestir a Amarelina numa competição de tal quilate – que, por si só, é colossal – passar a ter proporções incalculáveis?
Por isso, vamos com calma!
Não há por que termos pressa. Afinal, gozamos duma geração das mais talentosas que só precisa de tempo para, com um trabalho sério, que é o caso atual, se transformar em um time.
Mais: para se transformar no time mágico que todos sonham, tendo Ganso, Neymar, Lucas e Pato enquanto protagonistas do mais legítimo futebol-arte.
Este é o ponto.
Na condição de consumistas mimados do novo século, não podemos torcer da mesma maneira como fazemos – erroneamente – com todas as outras coisas: à base de imediatismo e extremismo.
Os resultados não devem ser obtidos “para ontem”, como dita o sistema no qual estamos inseridos e comprimidos por ele. Muito menos, as conclusões devem se basear na lógica do “tudo ou nada”.
Tivesse o Brasil enfrentando o Uruguai na final que ocorreu à pouco, as conclusões não seriam (ou deveriam ser) diferentes.
Todavia, o imponderável é elemento constante no esporte em questão, à ponto de permitir que um time chegue à uma final sem sequer vencer uma partida, tal qual fez o Paraguai.
O que precisamos entender é que os principais jogadores dessa Seleção são muito novos, embora destaques dos clubes nos quais jogam – Ganso, Neymar e Pato, sem falar no potencial titular, Lucas (Silva).
Por essa razão, a camisa tupiniquim pesou quando vestiram-a.
Muito por isso, quiseram enfeitar quando bastava fazer o “feijão com arroz”.
Foi assim que Thiago Silva tremeu e André Santos isolou antes de qualquer obstáculo oriundo do gramado surgir às suas vistas. Foi assim que faltou a participação mais efetiva dos veteranos Júlio César, Dani “Fírula” Alves, Ramires (já jogou uma Copa), Elano, Robinho e Fred, os quais estavam lá justamente para acalmar a molecada e dividir com eles a responsabilidade.
Erro indiscutível de Mano Menezes, naquela oportunidade, foram suas substituições (Lucas no lugar de Ganso, aos 9′; e Fred no lugar de Neymar, aos 35′).
É, desde que se conhece como técnico de futebol, possuir um empresário.
Essa, sim, a crítica correta – treinador de futebol possuir agente -, visto que existe uma confusão de debates quando se utiliza tal argumento para avaliar a atuação dos agenciados por Carlos Leite, André Santos, Lucas Leiva e Jádson, sempre que defendem a sua pátria.
Também por isso devemos nos espelhar no campeão do dia, Uruguai, o único na atualidade a praticar uma revolução em seu futebol.
Os campeões da Copa América lutam pelos seus direitos e, há algum tempo, encabeçam uma verdadeira cruzada contra os empresários-mor do futebol uruguaio (os Juan-Figgers da vida…). “Luisito” Suárez e Lodeiro são os exemplos mais recentes dessa prática.
O time de Tabárez é prova cabal de que o trabalho bem feito e duradouro surti efeitos pra lá de positivos.
É a prova de que o trabalho, de preferência com o mesmo treinador da seleção principal, se inicia nas categorias de base da mesma, tal qual faz o “Maestro”, figura presente em quase todos os treinos das seleções sub-15, sub-17 e sub-20 da Celeste.
É prova de que humanizar e educar são o que qualquer sociedade precisa. Que o diga o time sub-20 uruguaio, vice-campeão sul-americano da categoria, que possui seus 22 atletas com o primeiro grau completo. DEZ deles com o segundo, tendo alguns iniciado suas graduações.
Ou seja, é o trabalho feito que vale.
Não foi a derrota deste elenco escolarizado do Uruguai para o Brasil, ou um possível fracasso da seleção principal, hoje, que tornou ou tornaria esta empreitada de Tabárez menos valiosa.
O mesmo se reporta a nós.
Lembremos que o selecionado de Felipão, pentacampeão mundial, foi eliminado da Copa América por Honduras.
Ganhou o Mundial da Ásia quando os derrotados daquela ocasião se transformaram num time e criaram identificação com a seleção nacional, que refletia na identificação do povo brasileiro por aquela equipe.
Justamente os principais trunfos do Uruguai campeão da Copa América.
São nos bons exemplos que o Brasil deve se espelhar.
Pelo bem desta e das próximas gerações.
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Para saber mais como se dá essa revolução no futebol uruguaio, segue um excelente texto do jornalista da ESPN BRASIL, Lúcio de Castro, no qual a descreve com detalhes: http://bit.ly/qkozKg