Sobre falcões e pardais
Ao contrário de muitos, não acho que o São Paulo fez mal em optar por Adilson Batista.
Sim, sou fã de Dorival Júnior, e acho que contratá-lo seria muito mais interessante. E, por loucura que pareça, nem acho que Dunga seria má opção (o que dá assunto pra outro post).
Acontece que nenhum dos dois podia. Quem podia era Celso Roth e Cuca. Autuori também era uma, mas tinha uma multa contratual gigantesca. Enfim, três caras que não passam de medianos.
Diante disso, restavam duas possibilidades: Adilson ou a efetivação de Milton Cruz. De fato, informações dão conta de que essa última ganhava força entre diretoria e, inclusive, os próprios jogadores.
Mas Cruz não vai sair nunca do São Paulo. Entra e sai técnico, ele nunca deixa de ser o infiltrado da presidência. Assim, não há motivo para os atletas tricolores passarem a olhar seu novo comandante com o canto do olho. Mesmo porque, até onde eu sei, ele não é daqueles que compra briga de graça.
O problema é: Adilson tem fama de “Professor Pardal”. Para muitos seria, então, um novo Carpegiani. Mas essa visão também é errada.
Carpegiani não foi um inventor maluco. Não no São Paulo. Sua única (e péssima) ideia mirabolante no Morumbi, foi a de improvisar Jean na lateral. Coisa que, diga-se, começou com Muricy. E, falando nele, ninguém reclamou quando Danilo, lateral de origem, foi lançado de volante e fez uma ótima Libertadores.
Carpegiani caiu porque perdeu três partidas seguidas com um elenco terrivelmente desfalcado, isso sim. E porque levantou a voz contra Rivaldo, que tem relações obscuras com Juvenal e cia.
Só que Adilson, agora, não terá mais desfalques. Terá Lucas de volta, e em boas condições. Terá um lateral de ofício (o mediano paraguaio Piris) e poderá lançar o jovem Henrique na esquerda, no lugar do fraco Juan.
Não terá Casemiro, é verdade. Mas terá Denílson, que não fica atrás. Ademais, Rodrigo Souto tende a cair fora, o que deve preencher uma lacuna.
Não obstante, o time vem embalado, e tem a vice-liderança. Enfim, a conjuntura é mais do que favorável.
“Ah, mas Adilson falhou em suas três últimas passagens”, dirão seus críticos. E eu pergunto: falhou mesmo?
Adilson foi bem no Corinthians. Pegou um time já sem Elias e André Santos, que eram peças-chave do esquema de Mano. Um time que tinha Ronaldo em forma física lastimável, e que teve que aturar Souza como titular em muitas partidas.
Aí veio o Santos, que começou bem sob seu comando, e olha que com muitos desfalques. Mas aí, Luís Álvaro achou que o cara não obedecia o “DNA Santista”, coisa com a qual Muricy, que adora segurar 1 x 0, se identificava mais. E Adilson caiu.
Por fim, veio o Atlético Paranaense, que tem uma defesa horrorosa e depende muito, pasmem, do Paulo Baier (aquele mesmo). E Adilson pediu demissão.
Isso, depois de uma ótima passagem pelo Cruzeiro, vice-campeão da Liberta em 2009, com uma ótima campanha. Pra não falar em 2010, quando com um time nem tão bom assim, foi de novo para as quartas e perdeu para o São Paulo, jogando a segunda partida inteira com um homem a menos.
Eu acho Adilson um ótimo técnico, que monta times ofensivos e terá uma boa passagem pelo Morumbi nesse Brasileirão, principalmente se conseguir driblar a influência de Rogério e Rivaldo nas escalações.
Nesse sentido, aliás, não digam que eu não avisei: é bem possível que surja uma briga e ele saia antes do tempo. Esse, aliás, é o maior perigo. Porque Adilson faz bons trabalhos a longo prazo, e não é cara para ser demitido em 10 jogos. É mais ou menos como Falcão, que foi pro Inter no embalo de Renato Gaúcho, largou um ótimo emprego de comentarista e foi “brilhantemente” descartado por um clube que também quer se dizer “diferenciado”.
É chegada a hora do São Paulo decidir se quer voltar a ser “diferenciado” ou se quer vestir de vez a camisa da mediocridade. Essa decisão, a meu ver, passará muito pela manutenção de Adilson.